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segunda-feira, 11 de março de 2013

Projeto Calendário Ideal - Parte 4: Campeonato Brasileiro

Finalmente! Depois de quase um mês com o projeto parado, por causa dos desdobramentos do caso Kevin, posso voltar à nossa série de análises sobre o calendário do futebol brasileiro. E o tema hoje é espinhoso: o Campeonato Brasileiro.

Maiores campeões nacionais após a canet... ops, reconhecimento da CBF em 2010

Inversão de valores atrasou a criação do Brasileiro

Diferentemente de outras grandes nações do futebol, o Brasil não buscou logo de cara criar uma liga nacional onde houvesse o enfrentamento de clubes de todo o país. Ao contrário: a popularidade dos Estaduais, que começaram a surgir em São Paulo (em 1902) e dos regionais, cuja primeira edição foi a Taça Salutaris em 1911, como citado no último post (leia AQUI), sufocaram a ideia até mesmo de se criar uma confederação nacional. Quanto mais de um campeonato.

Isso se prova facilmente ao se comparar a data em que se disputou as primneiras edições dos campeonatos nacionais mais fortes atualmente, segundo ranking da IFFHS:

Espanha: 1928/29
Brasil: 1959 (Taça Brasil) e 1971 (Campeonato Brasileiro)
Alemanha: 1903
Itália: 1898
Inglaterra: 1888/89
Argentina: 1931
França: 1932/33
Holanda: 1890/91
Paraguai: 1906
Chile: 1933

Há de se observar que em todos esses países, a distância entre as cidades e regiões deve ter facilitado em muito a organização de torneios nacionais, enquanto que no Brasil as dificuldades impostas pela extensão territorial deviam ser enormes. Mas fica colocado o fato de que demoramos quase 30 anos a mais que os argentinos, por exemplo, pra criarmos um torneio nacional.

Mas essa história começa bem antes disso; vamos conferir?

Os Campeonatos Brasileiros "criados" pela imprensa
Devido à qualidade técnica dos campeonatos estaduais de Rio de Janeiro e São Paulo, os campeões dos torneios regionais entre os times desses estados foram frequentemente apontados como os melhores times do Brasil, sendo considerados campeões brasileiros, principalmente pela imprensa da época. Veja alguns exemplos:




Nessa reprodução de um jornal de 1930, o Corinthians não é citado como campeão da Taça dos Campeões Estaduais - o nome do torneio vencido pelo Timão -, mas sim como "campeão absoluto do Brasil". Isso na época em que os campeonatos nacionais ainda surgiam nos nossos vizinhos Argentina e Chile.



Vinte anos mais tarde, em 1951, o jornal espanhol Mundo Deportivo, em reportagem sobre a Copa Rio, cita o Vasco da Gama, campeão do Rio-São Paulo daquele ano, como "campeão brasileiro oficioso". Leia AQUI a reportagem original.




 


Já esta outra imagem, uma reprodução do jornal Mundo Esportivo de 16 de julho de 1954, mostra foto dos jogadores do Corinthians após a conquista do Rio-São Paulo daquele ano, e na faixa consta a inscrição "Bi-campeão do Brasil".



Cinco anos depois disso, em 1959, ocorre a primeira iniciativa da CBD de criar um torneio nacional de verdade: a Taça Brasil.







Taça Brasil: a Copa que virou Brasileirão

Em 1958, houve o Congresso da CONMEBOL no Rio de Janeiro. E por lá, decidiu-se que seria criado um torneio chamado Copa Libertadores da América, com os campeões nacionais dos países sul-americanos. 

Para indicar o representante brasileiro, decidiu-se criar então a Taça Brasil. Ela também seria um tonreio subsituto ao Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, e contaria na sua primeira edição com times de 16 estados do Brasil. Também decidiu-se que ela seria disputada em sistema de copa, devido à distância entre os locais dos jogos, e as equipes grandes somente entrariam na disputa nas fases finais do torneio.

Isso permitiu que em 1959, por exemplo, o Santos fosse vice-campeão com cinco jogos disputados, enquanto o Bahia foi campeão após CATORZE jogos. Quase três vezes mais.

Em 1960, o Santa Cruz-PE foi 4º colocado após dois jogos somente, e o Palmeirs foi campeão após 4 partidas, enquanto o Fortaleza caiu na final após DEZ jogos. E assim sucessivamente.

Uma curiosidade: as edições de 1965 e 1968 não indicaram seus campeões para as Libertadores de 1966 e 1969, respectivamente. Isso pois o Brasil não concordou com a inclusão dos vice-campeões no torneio (em 1965) e teve problemas com o calendário da competição, inviabilizando a indicação do campeão (em 1968).


A Taça Brasil foi disputada até 1968, e apesar de ser um Copa, foi unificada em 2010 junto às edições do Campeonato Brasileiro, e não da Copa do Brasil.


Robertão: um Rio-São Paulo turbinado

Taça de Prata de 1970
Vamos aos fatos: o Rio-São Paulo já tinha como nome oficial "Taça Roberto Gomes Pedrosa" desde 1954, em homenagem a Pedrosa, goleiro da Seleção na Copa de 1934 e que morreu em 1954, durante seu mandato como presidente da Federação Paulists de Futebol. E desde essa época os vencedores do torneio eram considerados campeões brasileiros não-oficiais.

Mas a nacionalização do Robertão só ocorreu de fato em 1967, quando cinco times de fora do eixo Rio-SP foram convidados para a disputa: Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio, Inter-RS e Ferrooviário-PR. Até 1970, ainda participariam equipes da Bahia e de Pernambuco. E só.

Ou seja: o Robertão era nada mais, nada menos que um Rio-SP com uns times de fora. Como quando a CONMEBOL convida times como Japão e Honduras pra disputar a Copa América. Além disso, somente o campeão e vice da edição de 1970 conseguiu ser levado à Libertadores, pois nos anos seguintes divergências entre CBD e CONMEBOL impediram que isso ocorresse. Isso fez o Brasil ficar de fora das Libertadores de 1966, 1969 e 1970.

Mesmo assim, em 2010 o torneio foi unificado ao Campeonato Brasileiro pela CBF, fazendo com que ele passasse a ser um Campeonato Brasileiro das antigas. Mas só a partir de 1967.

Um campeonato, mil nomes

Tenho que admitir que não consegui pesquisar a fundo os motivos que fizeram o Robertão deixar de ser disputado em 1970 para dar espaço a um novo campeonato em 1971. Essa transição está ainda obscura para mim. Desculpem.

Em 1987, o Flamengo achou que tinhsa levado. Só que não
Mas o fato é que, em 1971, surge o Campeonato Nacional de Clubes (nome oficial do torneio). E algumas curiosidades têm de ser contadas:

De 1971 a 2002, houve 32 fórmulas diferentes em 32 edições disputadas. Desde o número de times até o número de jogos e o formato da competição. Mas sempre houve fases de disputa e divisão dos times em grupos. Em duas ocasiões não houve finais: em 1971 a decisão ocorreu em um triangular final, e em 1973 a decisão ocorreu em um quadrangular.

Até mesmo no nome houve mudanças, e foram muitas:

1971 - 1974: Campeonato Nacional de Clubes
1975 - 1980: Copa Brasil
1981 - 1983: Taça de Ouro
1984 - 1986: Copa Brasil
1987 - 1988: Copa União*
1989 - 1999: Campeonato Brasileiro da Série A
2000: Copa João Havelange (organizada pelo Clube dos 13)
Desde 2001: Campeonato Brasileiro da Série A

* Em 1987 o nome oficial ainda era Copa Brasil, mas o torneio ficou informalmente conhecido como Copa União

Somente em 2003, com a tentativa de organização do calendário do futebol brasileiro, o Campeonato Brasileiro passou a ser disputado em pontos corridos, portanto sem mata-mata. E desde então, a fórmula permanece inalterada.

Festa em 2011 para a entrega da taça ao Corinthians

 Pontos corridos x Mata-mata: e aí?

Esse é o verdadeiro debate que se coloca hoje em dia. Os que defendem os pontos corridos lembram do confronto São Paulo x Santos em 2002, quando o time do litoral, até aquele momento medíocre, eliminou o rival paulista, que liderou a primeira fase de ponta a ponta. Alegam que esses confrontos geram "injustiça" no futebol.

Já os partidários do mata-mata citam as suspeiutas de jogos comprados nas rodadas finais, os jogos entregues, a falta de emoção quando o campeão se define antes da última rodada e as médias de público cada vez menos: o jogo que deu a taça ao Fluminense ano passado, contra o Palmeiras, contou com somente 8461 pessoas (confira reportagem da Placar sobre o assunto).

Alguns defendem algum tipo de meio-termo, como por exemplo:

- Fazer como na Argentina e termos dois campeões brasileiros por temporada: o campeão do primeiro turno e o campeão do segundo turno. Ou ainda:

- Fazer um jogo final entre os campeões de cada turno, ou um triangular final caso um time tenha somado mais pontos nos turnos do que os campeões.


A única certeza é que dá pra se disputar o Brasileirão com várias fórmulas diferentes. Você, o que faria?

Deixe seu comentário!

2 comentários:

  1. Olá Daniel. Mais um post muito bom sobre a história do nosso futebol.

    Eu sou a favor do Brasileirão com pontos corridos.

    Mas a opção de "fazer um jogo final entre os campeões de cada turno, ou um triangular final caso um time tenha somado mais pontos nos turnos do que os campeões" é muito interessante!

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  2. A taça brasil foi criada para se apontar o clube campeão do brasil conforme comprova o dossiê do jornalista odir cunha. O torneio roberto Gomes Pedrosa / taça de prata já era apontada pela CBD como campeões do brasil desde os anos 70 em seus boletins oficias. Pori isso e a repercussão de toda imprensa da época que a unificação foi justa.

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