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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Exercício de reflexão: o meu calendário do futebol brasileiro

AVISO: De novo, o post ficou longo, bem longo (rs). Desculpem. Se for o caso, vou ver se consigo dividi-lo em partes, mas acho que é melhor ler tudo de uma vez. Trata-se de um tema quente (calendário do futebol) e acho que ficou bem legal. Seja paciente, e leia tudo... vale a pena!

Fala Fiel!

Essa é meio que a segunda parte do post que falava sobre o Movimento Bom Senso FC. Já leu? Se não, clica aqui e dá uma olhada!

O movimento, composto por 75 jogadores (oito deles do Corinthians) quer definir estratégias para debater algumas questões do futebol brasileiro com a CBF. A mais importante delas, o calendário de 2014, com um período de férias no limite da legalidade, apenas quatro dias de pré-temporada e muito carregado antes da pausa para a Copa do Mundo.

Nós, corinthianos, sentimos na pela como tá sendo problemático ter feito uma pré-temporada curta, sem garantir a devida recuperação física aos jogadores, e principalmente com a obrigação de disputar um campeonato estadual tão inchado. A pergunta que fica, então, é: o que se pode fazer?

Já fiz um debate semelhante nos meses de fevereiro e março, no Projeto Calendário Ideal, quando debati e analisei o contexto histórico dos torneios nacionais pra chegar a uma proposta factível de calendário.

Vou retomar tudo o que fiz nesse post. Mudei alguns conceitos de lá pra cá, e acredito que posso ajudar nesse debate. Vamos lá!

QUAL É O CALENDÁRIO IDEAL PARA O BRASIL?

Antes de você continuar a ler, preciso avisar: esse post é muito mais um exercício de reflexão do que uma proposta em si. A ideia central aqui é mostrar que é possível mantermos todos os atuais torneios sem sobrecarregar clubes e jogadores. Basta que se adapte as competições aos interesses das equipes, e não dos cartolas.

Assim, vou dizer pra vocês o que fiz, e como cheguei à ideia final, OK?

Parti do calendário oficial de competições divulgado pela CBF, que é esse aqui:
Dele, eu preservei os itens que considero impossíveis de se mexer:

- Os período de férias, entre dezembro e janeiro;
- As datas FIFA, reservadas para os amistosos de seleções;
- As datas reservadas para o Superclássico das Américas;
- O intervalo reservado para a disputa da Copa do Mundo;
- O período reservado para a disputa do Mundial de Clubes.

Então, me sobrou dois períodos para trabalhar: de 12/janeiro a 12/junho e de 13/julho e 10/dezembro. Pequei esses períodos, então, e busquei a quantidade de datas úteis para a marcação de jogos (quartas-feiras e domingos) que me sobraram a cada mês. Dá uma olhada:


Logo, são 77 datas úteis em 2014. O desafio era encaixar as competições que temos e tentar fazer um calendário decente e viável.

É aqui que começa o exercício de reflexão, e leia os itens com atenção, caso queira comentar ou acrescentar qualquer coisa ao final do post. Fique à vontade!

1 - MAIOR PERÍODO DE PRÉ-TEMPORADA

Busque um estudo sobre o tema, e você poderá verificar que o melhor jeito de um atleta se preparar fisicamente e prevenir lesões é fazer uma pré-temporada decente - e não os 4 dias propostos pela CBF para 2014.

No "meu" calendário, a pré-temporada iria de 8 a 26 de janeiro (18 dias), quando os estaduais se iniciariam. Apenas dois times começariam uma semana antes, por causa da disputa da Supercopa do Brasil, disputada em um jogo, que abriria e temporada no dia 19. Mais detalhes sobre a Supercopa a seguir.

2 - O RETORNO DA SUPERCOPA DO BRASIL

A ideia é muito simples: reativar a Supercopa do Brasil que foi disputada em 1989 e 1990 entre os campeões do Brasileirão e da Copa do Brasil.

Esse tipo de disputa é clássica e muito tradicional; é o jogo de abertura da temporada em muitos países, como a Inglaterra por exemplo. A ideia é que isso passe a ocorrer aqui: abrir a temporada brasileira com a Supercopa. Ela só não ocorreria se um mesmo time vencesse os dois torneios. Então ele unificaria os títulos e seria o campeão automático da Supercopa.

3 - BRASILEIRÃO MENOR, E SÓ AOS FINAIS DE SEMANA

Trata-se de dar ao torneio mais importante do país o devido prestígio. E eu faria isso de duas formas: diminuindo o número de clubes para 18 e colocando todas as suas rodadas para ser disputadas nos sábados e domingos.

A diminuição no número de clubes se deve à clara diminuição do nível técnico do torneio. Não temos, hoje em dia, 20 times em condições de fazer um bom papel na primeira divisão nacional. E eu não estou sendo elitista, nem desvalorizando a diversidade futebolística do nosso país... eu apenas não concordo com esse nivelamento por baixo que estamos presenciando no nosso Brasileirão. Cada vez mais equilibrado, cada vez mais fraco.

Claro que, diminuindo o campeonato para 18 clubes, rebaixar quatro não faz sentido. Assim, eu rebaixaria dois e faria um playoff entre o antepenúltimo e o 3º colocado da Série B, em jogos de ida e volta, na semana seguinte ao fim do Brasileirão.

Quanto aos jogos somente nos fins de semana, penso que seria uma forma incentivar o torcedor a comparecer. Torneios de pontos corridos têm momentos de emoção, mas também podem ser maçantes. Suas partidas devem ser disputadas nos dias e horários mais confortáveis possíveis ao torcedor.

Deixemos os dias úteis para as partidas de torneios internacionais e para a Copa do Brasil. São jogos que têm um apelo próprio, diferenciado. E esse apelo é o incentivo para que o torcedor esqueça / releve todos os perrengues da quarta-feira à noite e compareça aos estádios... ou não?

4 - ESTADUAIS MENORES NOS ESTADOS QUE TEM EQUIPES NA SÉRIE A

Cada Federação estadual tem seus interesses na manutenção dos Estaduais. Em muitos casos, os interesses são financeiros e olhe lá. Mas o fato é que muitos, mas muitos estados têm seu futebol 100% atrelado à disputa do seu estadual, que dura o ano todo e que, se não existisse, causaria o fim dos clubes locais. Já em outros estados, a competição representa uma receita importante para os clubes - em São Paulo, por exemplo, o estadual paga mais que a Libertadores.

Em linhas gerais, o problema é que os estaduais ditos "maiores" (SP, RJ, RS, MG, PR) atrapalham a preparação das equipes da Série A para a disputa dos outros torneios. E para mim, a solução passa pela redução drástica do número de jogos disputados. E o critério seria fazer essa redução somente nos estados que têm equipes na primeira divisão nacional. Quando um estado deixasse de ter representante, se desobrigaria a respeitar a "regra" Mas se voltasse à elite nacional, a federação teria que ajustar seu torneio novamente.

No meu calendário, reservei 10 datas para esses estaduais. Dá pra fazer, por exemplo, um Paulistão nos seguintes moldes:

16 times em 4 grupos / Jogos de ida e volta / Os 2 primeiros passam (6 datas)
Quartas-de-final: jogo único (1 data)
Semifinal: jogo único (1 data)
Final: ida e volta (2 datas)

Um bom detalhe de fazer o Estadual dessa forma é que seria possível jogar apenas uma vez por semana até a terceira rodada do campeonato, impedindo que os jogadores fossem forçados em começo de temporada, como ocorre hoje em dia.

Um detalhe importante: para evitar que os clubes desses estados que não disputam mais nada no resto do ano fiquem parados. defendo que as federações criem e realizem outros torneios ao longo do ano, para manter esses clubes ativos. Torneios como a Copa Paulista de Futebol, que aqui em SP é disputada no segundo semestre pelos times paulistas que não tiveram sucesso no primeiro semestre.

O mesmo valeria para os estados que não têm times na Série A. Eles ficariam livres para montar seus estaduais da forma que quisessem, contanto que respeitassem as datas das outras divisões nacionais e das fases iniciais da Copa do Brasil (já vou falar dela).

5 - LIBERTADORES E SULAMERICANA: MESMA FÓRMULA DE DISPUTA 

Atualmente, as duas competições vivem uma crise técnica. A Libertadores, criada para ser o mais importante torneio continental da América do Sul, se tornou um balcão de negociatas da CONMEBOL, que para atender a seus interesses incluiu os times mexicanos na disputa e inchou tanto o torneio que hoje em dia, até o sexto colocado do Brasileirão pode ter a chance de ser campeão continental. Um incentivo à mediocridade.

Já a Sulamericana, nem pra segunda divisão da Libertadores serve. Nem dando vaga à Libertadores para o campeão conseguiu atrair mais interesse dos clubes. Aliás, quanto aos clubes, a situação é pior ainda do que a de sua competição-irmã: até o Sport, que está na Série B, está disputando a edição desse ano, e em tese poderia ser campeão continental, mesmo não sendo da primeira divisão nacional.

Novamente, não se trata de ser elitista. Trata-se somente de devolver aos torneios continentais seu real "status". Disputar uma competição sulamericana não pode ser algo banal, mas sim um privilégio, conquistado com méritos dentro de campo. É um despropósito um time ser rebaixado no torneio nacional e no ano seguinte disputar um torneio continental. Acaba sendo um prêmio à incompetência.

Minha ideia para elevar o nível desses torneios é facilitar as coisas e unificar as suas fórmulas de disputas: 32 times em cada. O Brasil, por exemplo, cederia de 4 a 5 equipes para cada uma das competições. Ou seja, de 8 a 10 times dos 18 que estariam disputando a Série A.

Os jogos da Libertadores seriam às quartas, e os da Sulamericana na mesma semana, às quintas. Como ocorre com Champions League e Europa League. A disputa se daria em 14 datas, olha só:

32 times em 8 grupos / Jogos de ida e volta / Os 2 primeiros passam (6 datas)
Oitavas-de-final / Ida e volta (2 datas)
Quartas-de-final / Ida e volta (2 datas)
Semifinal / Ida e volta (2 datas)
Final / Ida e volta (2 datas)

A primeira fase e as oitavas-de-final seriam no primeiro semestre, e o restante no segundo semestre.

6 - COPA DO BRASIL PARECIDA COM A DE HOJE EM DIA

Eu apenas aumentei um pouco, para colocar mais uma fase na competição e incluir os times que viessem da Libertadores mais cedo. Na edição desse ano, eles entraram nas oitavas-de-final e se um for campeão terá disputado só oito jogos. Acho pouco.

Na "minha" Copa do Brasil (rs), haveria 10 times pré-classificados para a 3ª fase: os times que estivessem na Libertadores e Sulamericana. Se houvesse menos de 10 times nesses torneios, completariam a lista os melhores classificados no Ranking da CBF.

Seriam 88 times a começar a disputa em fevereiro.
1ª fase: jogos de ida e volta / Sobram 44 times (2 datas)
2ª fase: jogos de ida e volta / Sobram 22 times (2 datas)
Juntam-se a esses times os 10 pré-classificados -> TOTAL: 32 times
3ª fase: jogos de ida e volta / Sobram 16 times (2 datas)
Oitavas-de-final: jogos de ida e volta (2 datas)
Quartas-de-final: jogos de ida e volta (2 datas)
Semifinais: jogos de ida e volta (2 datas)
Final / Jogo único

Ah é, esqueci de falar: a final seria em jogo único, em local pré-definido em sorteio. Penso que, agora que temos tantas arenas multi-uso, seria uma forma prática de usá-las, nem que seja uma vez por ano.

7 - RECOPA SULAMERICANA NO PRIMEIRO SEMESTRE

Por quê o segundo semestre tem poucas quartas-feiras, e por que não vejo motivos para se esperar até agosto ou setembro pra se disputar um título, já que se sabe os oponentes desde o ano anterior. Penso que é uma "espera" desnecessária.
--x--

Depois de tanta informação, segue o calendário, com mais comentários abaixo (clique na imagem para ampliar):

Comentários:

1 - Esse calendário não prevê as datas dos estaduais que não foram citados lá no item 4; isso pois as federações ficariam livres para adequar suas competições às datas que estivessem disponíveis.

2 - Ele também não prevê as datas das outras divisões do Campeonato Brasileiro. Haveria 44 datas disponíveis para suas realizações: as 34 da Série A mais as 10 que foram separadas exclusivamente para a Libertadores. Na minha opinião, as divisões inferiores do futebol nacional poderiam ser da seguinte forma:


Dessa forma, o Brasil teria seis divisões nacionais, reunindo 324 clubes.

3 - Notem que todos os jogos dos clubes foram marcados sem prejudicar a pausa para a Copa do Mundo nem as datas de jogos da Seleção, ou seja: nenhum clube jogaria nessas datas, como ocorre hoje em dia.

4 - Também notem que, como os estaduais começariam somente no fim de janeiro, haveria tempo para pré-temporadas e amistosos no exterior; isso também seria possível no meio do ano, visto que o calendário foi ajustado considerando os 33 dias de pausa para a Copa, e a partir de 2015 esse período poderia ser usado para os clubes excursionarem no exterior, o que não é possível atualmente.

5 - Por fim, algo importante. Nessa "ideia" de calendário, os jogos seriam disputados em menor quantidade. Pra mostrar isso, veja a imagem abaixo. Eu peguei as temporadas de 2012 e 2013 do Corinthians e simulei quantos jogos nosso time faria sob o "meu" calendário. Também simulei a temporada de um time que disputasse TODOS os jogos possíveis, sob o atual calendário e de acordo com o "meu":


Bom, muita coisa aqui é uma baita viagem, mas uma viagem responsável. Mesmo porque esse meu calendário ignora as motivações políticas e financeiras que rondam e influenciam os interesses das federações estaduais, CBF e CONMEBOL quando estas elaboram suas competições.

Mas, como já disse: tudo isso é somente um exercício de reflexão, para mostrar que não precisamos acabar com os estaduais nem tomar nenhuma atitude mais radical. O que precisamos de verdade é de boa vontade dos cartolas, para se criar um calendário factível e que seja justo para todos.

Gostou das minhas ideias? Acha que algo poderia ser aproveitado na realidade? COMENTE!

2 comentários:

  1. Muito bom esse seu calendário! Seria ótimo se os organizadores do Bom Senso FC conhecessem este projeto!
    E aproveitando o espaço, eu acho que seria melhor e mais democrático se a FIFA organizasse o Mundial de Clubes da mesma maneira que a edição de 2000 ou a Copa das Confederações, com dois grupos com 4 clubes, semifinais e final,incluindo o campeão nacional do país sede e o campeão mundial do ano anterior com partidas únicas. Claro que o campeão teria que disputar mais 3 jogos caso fosse campeão, mas creio q não mudaria muito o desempenho dos atletas.

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    1. Ah! Mas nisso eu concordo mesmo, totalmente! Mas eu não mexi no Mundial pois isso envolveria uma ação da FIFA, e a ideia do post era criar um calendário que suprisse as reivindicações do Bom Senso FC e que fosse possível de a CBF instituir, se quisesse.

      No caso do Mundial, porém, se fosse pra pensar em fórmulas melhores, eu posso inventar uma bem diferente. Dá uma olhada:

      2 vagas à UEFA (campeões da Champions League e da Europa League)
      2 vagas à CONMEBOL (campeões da Libertadores e da Sulamericana)
      1 vaga à AFC (Ásia);
      1 vaga à CAF (África);
      1 vaga à CONCACAF (Américas do Norte, Central e Caribe);
      1 vaga à OFC (Oceania)
      1 vaga ao campeão nacional do país-sede;
      1 vaga ao campeão mundial do ano anterior.

      Primeiro faz-se um playoff entre o campeão da Oceania com o campeão do país-sede. O vencedor se junta aos outros 8 times, e então eles se dividem em 3 grupos com 3 equipes. Jogos em turno único, classificando os três primeiros e o melhor segundo colocado. Então, semifinais e final. Daria quatro jogos para o campeão.

      O que você acha? Abraços!

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