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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Projeto Calendário Ideal - Parte 2: Campeonato Paulista

 
Fala Fiel!

Desculpem pelo atraso enorme na continuidade desse projeto, mas não imaginava que o Carnaval fosse a correria que foi. Enfim...

Chegamos à segunda parte do Calendário Ideal. Depois de apresentar minhas ideias para o calendário brasileiro, vamos começar a conhecer e discutir melhor os torneios disputados atualmente pelos clubes no Brasil, começando pelo mais tradicional de todos: o Campeonato Paulista.

Paulistão: pioneiro, mas elitista (1902 - 1910)

O Campeonato Paulista é quase tão antigo quanto o próprio futebol no Brasil: tem nada menos do que 111 anos. Sua primeira edição, portanto, ocorreu em 1902.

O idealizador da competição foi Charles Miller (à direita), reconhecido como a pessoa que introduziu o futebol no Brasil. Em 1901, ele auxiliou na criação da LPF, a Liga Paulista de Foot-Ball, que no ano seguinte teve sua primeira competição disputada com cinco equipes, todas formadas por filhos de famílias ricas e tradicionais da cidade: Club Athletic Paulistano, Internacional, Mackenzie College, Germânia e São Paulo Athletic Club. Esse último foi o campeão, com o próprio Charles Miller como artilheiro, e acabaria vencendo ainda as edições de 1903 e 1904.

Nos seus primeiros anos, o futebol no Brasil foi marcado como um esporte elitista, diferente do que ocorreu em países como Uruguai e Argentina. Vale lembrar que nesses países, o futebol começou a ser disputado já no século XIX. Nessa época, inclusive, esses países já tinham recebido até mesmo alguns clubes ingleses em excursões internacionais.
O Corinthian Club traz a popularização (1910 - 1917)

Em 1910, o clube inglês Corinthian Football Club visitou o Brasil em mais uma de suas famosas excursões internacionais, e vence com folga todos os jogos que fez. O choque de realidade surpreende a todos no futebol paulista.

O frisson causado por essa visita iniciou o processo de popularização que começou a fazer do futebol o esporte mais popular do estado e do país. Isso começou com a fundação do nosso Sport Club Corinthians Paulista, em setembro desse ano.

Nos anos seguintes à fundação do Corinthians, outros clubes populares foram surgindo, como o Palestra Itália. Ao mesmo tempo, um movimento surgiu dentro da LPF pela inclusão desses times na Liga, pelo que outros times não concordavam, por entender ainda que o futebol deveria manter-se como um esporte da elite. Essas diferenças de opinião culminaram na fundação, em 1913, da Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA), formada pelos times contrários à popularização do futebol. 
Outro ponto separava esses grupos: o campo de jogo, pois um grupo queria que os jogos passassem ao campo do Germânia, o Parque Antártica, enquanto outro defendia que continuasse no estádio do Paulistano, o Velódromo.
Essas diferenças de opinião culminaram na fundação, em 1913, da Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA), liderada pelo Paulistano. Essa entidade surgiu com apenas 3 times (Paulistano, Mackenzie e A.A das Palmeiras), e seu campo de jogo seria o Velódromo, como o Paulistano exigia.
Com o tempo, outros times da LPF foram mudando para a APEA, e em 1917 o fim da Liga acabou sendo inevitável. Isso culminou no fim do "Torneio dos Nobres", como o torneio da APEA era conhecido, pois ele passou a receber, a partir desse ano, os chamados "times populares".

O Trio de Ferro e a profissionalização do futebol (1917 - 1938)

Nem sempre a expressão "Trio de Ferro" se referiu a Corinthians, São Paulo de Palmeiras. Ela é no mínimo 15 anos mais antiga que o São Paulo. Na verdade, o terceiro integrante era o Paulistano, o clube amador mais forte do Brasil, o clube mais vencedor do Paulista até 1940 e o único tetracampeão consecutivo do campeonato (imagem à direita). A primeira vez que o Trio se reuniu em um Paulista foi justamente após o fim da LPF: em 1917. 

Isso durou pouco, no entanto. Isso pois no início da década de 1920, outra questão dividiu os clubes: a profissionalização do futebol. Enquanto alguns clubes eram contrários, como o Paulistano, outros eram favoráveis. Novamente o Paulistano se viu em minoria e a ação foi a mesma: ele resolveu se retirar a APEA e criou a Liga dos Amadores de Futebol (LAF).

Durante 1926 e 1930, novamente o estado teve dois campeonatos: o da APEA e o da LAF. Mas o processo de profissionalização era um caminho sem volta, e sem força, a Liga liderada pelo Paulistano acabou em 1930, junto com seu clube fundador que encerrou as atividades em janeiro desse ano.

Com o fim da LAF, foi questão de tempo até que o primeiro campeonato paulista de futebol fosse disputado, e isso ocorreu em 1933, com o título do Palestra Itália. Mas isso não significou o fim das crises e divisões no futebol paulista: no ano seguinte, a APEA sofreu com a pressão da CBD (Confederação Brasileira de Desportos, hoje CBF), que, favorável ao amadorismo do futebol, pressionou os grandes do estado a saírem da Associação e criarem um novo campeonato em São Paulo.

Assim, em 1935, surgiu a Liga de Futebol Paulista, com a adesão de clubes como Santos, Corinthians, Palestra Itália, enquanto a APEA seguiu com times menores em seu torneio. Essa nova divisão durou até o ano seguinte, quando a Associação não resistiu e acabou com seu campeonato. Foi a vitória da LFP, que passou a ser o único campeonato estadual de São Paulo. 

A ironia da situação é que a CBD ajudou a criar esse torneio e pacificou de vez o futebol no estado, mas não conseguiu seu objetivo maior, que era restabelecer o amadorismo no futebol. O campeonato continuou, mas profissional. No fim das contas a própria CBD admitiria o profissionalismo no futebol.

A LFP foi a entidade que inspirou a criação da Liga de Futebol do Estado de São Paulo (LFESP) em 1938, iniciando a era moderna do Campeonato Paulista. Essa, por sua vez, inspirou a criação da atual Federação Paulista de Futebol, em 1941. Foi a última mudança estrutural nas entidades organizadoras do Paulistão.

O novo Trio de Ferro domina o estado (1938 -1957)

As primeiras 20 edições da era moderna do Paulistão foram marcadas por transformar o campeonato no estadual mais importante do Brasil. Seus torneios eram a prioridade dos clubes e duravam toda a temporada. 

Também foi nesse período que o Corinthians se transformou no time mais vencedor do estado, passando o Paulistano em 1941; que o Palestra Itália mudou seu nome para Palmeiras, em 1942; e que o Santos acabou com um jejum de 20 anos, voltando a vencer um campeonato em 1955 (o segundo em 43 anos de existência).


Essa conquista do Santos, aliás, acabou com uma hegemonia de 18 anos do Trio de Ferro no futebol paulista.

A era do Santos. Ou de Pelé. Ou do Santos. Ah, sei lá! (1957 - 1974)

O surgimento de Pelé foi o fato diretamente responsável por tornar o Santos o time que é hoje. Em 45 Campeonatos Paulistas disputados sem Pelé, o time santista venceu quatro edições, sete a menos do que o Paulistano, extinto há 27 anos. Era ainda o mesmo número de títulos do São Paulo Athletic Club e um a mais do que a A.A. das Palmeiras, também times extintos.

Já nos 18 anos em que Pelé esteve no Santos, o clube dominou o futebol no Estado, o time venceu outras 10 edições, rivalizando o domínio do futebol paulista com o Palmeiras. Desses 10 títulos, 8 foram na década de 1960, a maior concentração de títulos de um mesmo time em uma década apenas.

Foi nessa época também que o Campeonato Paulista começou a perder espaço para competições regionais e nacionais, como o Torneio Rio-São Paulo, a Taça Brasil e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Também foi a partir da década de 1960 que começou a disputa da Copa Libertadores da América e da Taça Europeia-Sulamericana, vulgo Taça Intercontinental. No entanto, a prioridade seguia sendo o Paulistão, que ainda durava toda a temporada e era o campeonato cuja conquista mais alegrava as torcidas.

O fim da fila e os novos domínios do Trio de Ferro (1975 - 1994)

Desde a criação do Campeonato Brasileiro de futebol em 1971, os estaduais passaram a rivalizar com menos força. A cada ano em que o campeonato nacional se fortalecia, o estadual perdia essa atração, mas ainda assim sendo disputado com bastante seriedade.


Os últimos 25 Campeonatos Paulistas antes da reestruturação do torneio, feita pela FPF em 1994, foram marcados por domínios alternados do Trio de Ferro e conquistas pontuais de outros clubes. Logo no fim da década de 1970 ocorreu o fim da fila de 23 anos do Corinthians em Paulistas, seguidos por mais três conquistas em 6 anos. Foi nessa época que ocorreu a Democracia Corinthiana, movimento liderado por Sócrates e que fez história no futebol, ao conquistar o bicampeonato em 1982 - 1983. 

Esses títulos foram praticamente os únicos que fizeram frente ao domínio do Sâo Paulo de Serginho Chulapa na década de 1980, onde venceram cinco Paulistões. Mas houve surpresas, como o título da Internacional de Limeira em 1986 e a final entre Bragantino e Novorizontino em 1990, a maior zebra da história do campeonato.

Em seguida, houve os títulos do Palmeiras na era Parmalat. Foram três títulos entre 1993 e 1996.

Foi nessa época, mais precisamente em 1994, que o Paulistão foi reformulado e passou a contar com 16 times, sendo renomeado como Campeonato Paulista - Série A-1 e tendo duração de janeiro a junho.

Os últimos 20 anos: invenções e desvalorização (a partir de 1990)

A partir da década de 1990, o Paulista deixou de ser a prioridade para os clubes, ficando com o glamour e com o simbolismo. Isso se fortaleceu após a maior presença dos clubes paulistas na Libertadores da América (e principalmente após os seguidos fracassos do Corinthians no torneio, em 1991, 1996, 1999 e 2000) e com a conquista do Palmeiras em 1999.

A conquista do Brasileiro pelo Corinthians em 1990, 1998 e 1999 também fez com que o Paulistão começasse a ficar em segundo plano. A reação da FPF, foi ir mudando a fórmula do torneio, a fim de atender a interesses diversos da FPF, TV e clubes. 

Em 1996 o Paulistão foi disputado em turno e returno., em 1996. Depois voltou a ter semifinais e final, mas permitiu a inscrição de jogadores a qualquer momento, permitindo ao São Paulo contratar e inscrever Raí apenas para a final em 1998.

Também foi em 1998 que ocorreu a campanha "Disk Marcelinho", quando a FPF comprou o passe de Marcelinho Carioca  do Valencia (ESP) por R$ 7 milhões e criou um telefone 0900 para que os torcedores de Corinthians, Santos, São Paulo e Palmeiras decidissem para onde ele iria (veja link). Cada ligação custava 3 reais. O período de ligações durou 12 dias e 62,5% das ligações foram de corinthianos, o que levou o craque de volta ao clube de onde tinha saído um ano antes. O hilário da história é que a FPF arrecadou apenas R$ 2 milhões em ligações, e ainda teve que sortear 5 Audis para os torcedores, como parte da campanha. Dá pra dizer que a ideia foi um fracasso só - exceto para o Corinthians, que "ganhou" o Marcelinho... literalmente.


As invencionices continuaram: em 2001, foram usados dois árbitros em campo e decidiu-se fazer disputas de pênaltis após os jogos que terminassem empatados, dando-se um ponto extra para o vencedor. Já em 2002, o Trio de Ferro mais o Santos não disputaram o torneio, pois estavam no Rio-São Paulo - o Ituano venceu essa edição. Depois, disputou-se um tal de Supercampeonato Paulista, vencido pelo São Paulo.

No ano seguinte, em 2003, ocorreu um dos que mais gostei: 21 times, em três grupos de 7 times. Quartas, semifinal e finais. Apenas 11 jogos para o campeão Corinthians em um torneio que durou até março apenas. 

Em 2004, segui-se com a fase de grupos, mas a disputa durou até abril. 

No ano seguinte, com 20 times, a disputa foi em turno único, todos contra todos. Foram 19 jogos de janeiro a abril. A fórmula se repetiu em 2006. 

Ronaldo brilhou em 2009
Mas em 2007, buscando maior popularidade, voltou-se às semifinais e finais - fórmula que se repetiu em 2008, 2009 e 2010. Em 2011, instituiu-se as quartas-de-finais, em jogo único, tirando-se o jogo de volta das semifinais. Essa é a atual fórmula.

Atualmente o campeonato dura quase 5 meses e tem uma média pífia de público. Muitos defendem que seja extinto, outros que seja encolhido; todos concordam apenas com uma coisa: que não fique como está!

Perguntas para debate:

1 - Hoje em dia o Campeonato Paulista vale mais pela disputa ou pelo simbolismo? 

2 - Vale a pena se sujeitar a 5 meses de Paulistão apenas pela premiação alta?

3 - Como tornar o Paulistão mais atrativo para a torcida?

E, por fim:


Qual seria a fórmula ideal para o Paulistão?


Espero os comentários! Vai Corinthians!

2 comentários:

  1. Eu não quero o fim do Paulistão. É tradição total. Mas ele precisa de uma reformulação já.

    Como já disse antes aqui, minha sugestão:

    16 clubes divididos em 4 grupos com 4 clubes cada.

    Dentro do grupo, ida e volta: 6 jogos.

    O primeiro de cada grupo de classifica para a semifinal.

    Semifinal e final: ida e volta.

    Total: 10 jogos.

    Menos monótomo, mais rápido.

    Se o campeonato tiver 20 clubes, a mesma coisa: 4 grupos com 5 times. Dá 2 jogos a mais pra cada um.

    Porém, essa fórmula, apesar de rápida e menos monótoma, tem um perigo: Como são poucos jogos, a chance de um grande não se classificar para a semifinal aumenta...

    Tipo, problema do time grande, claro, mas isso diminuiria a empolgação do torcedor...

    Enfim, meu sonho é um dia ver um Paulistão com essa fórmula.

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  2. Poderia manter os 20 times, mas fazer meio que dois campeonatos diferentes, um com as 8 melhores equipes de SP, segundo o campeonato brasileiro, sem rebaixamento, jogando em turno único.

    As outras 12 equipes jogariam em turno único, com as piores equipes caindo pra segundona.

    Os 4 melhores de cada grupo fariam as quartas e semi em jogo único e a final em dois jogos.

    Seria um campeonato que os Grandes jogariam apenas clássicos e jogos decisivos, o que seria bom pra tv também, e o campeão sairia com 10 jogos.

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