Comemoração dos jogadores após a vitória na semifinal dos playoffs de acesso (Foto: Stuart Tree) |
O que era pra ser apenas o tema de um post de pesquisa histórica virou contato direto com os dirigentes, que virou uma colaboração voluntária ao clube, que culminou numa experiência pessoal que irei levar pra toda a vida, o Brasil Tour de 2015. Desde então, pouca coisa mudou para o Casuals: eles continuam tendo que sobreviver na escassez de recursos do amadorismo inglês, e continuaram fazendo isso com muita garra e amor ao esporte. O Corinthian Spirit nunca abandonou o King George's Field.
As dificuldades sempre tornaram hercúlea a tarefa de fazer boas campanhas na oitava divisão inglesa. Afinal não é fácil conviver e disputar espaço com equipes que têm como aliadas o profissionalismo, ou mesmo o semiprofissionalismo. Melhor estrutura, assédio constante a um elenco que não recebe nada para vestir a camisa pink & brown. E mesmo assim, o Corinthian-Casuals já havia feito história ao terminar a edição 2015/16 da Ryman League First Division South em sexto lugar - isso porque perdeu pontos por causa de uma punição, senão teriam ido aos playoffs. Tal campanha já era motivo de orgulho.
O que dizer, então, do que esses caras fizeram no ano seguinte? Uma campanha histórica, cheia de grandes jogos, que após 46 rodadas levou o Casuals ao quarto lugar, garantindo uma vaga nos playoffs de acesso? Como definir o que esse time fez na semifinal dos playoffs, quando jogou com um a menos por mais de 70 minutos e mesmo assim conseguiu vencer seus adversários, fora de casa, por 4x3, garantindo-se na decisão? Os deuses do futebol deixariam essa história terminar com um final triste?
Melhores momentos da semifinal dos playoffs de acesso
Pois é, eles deixaram. Às vezes não dá pra entender o que acontece, e por que acontece. Por quê, afinal, um Casuals que vinha de oito vitórias seguidas, onde marcou nada menos que 26 gols, escolheu justamente hoje para parar em uma defesa? Por quê, afinal, o goleiro Slavomir Huk, do Dorking, escolheu justamente hoje pra salvar sua equipe em pelo menos três oportunidades enquanto a bola rolou?
Ambos os times começaram a partida muito nervosos, trocando vários passes errados. Mas foi o Casuals, no entanto, que se acalmou primeiro e começou a criar chances. Okojie, aos 19 minutos, forçou o goleiro Huk a fazer sua primeira grande defesa, após um chute com efeito. O Dorking tentou responder com Tolfrey, mas o chute foi em cima de Bracken, que defendeu sem dificuldades.
Aos 30, outra boa chance: Mu passou por três marcadores e finalizou para fora. Pouco tempo depois, nova intervenção do goleiro Huk que fez grande defesa em cabeceio de Jack Strange. O Casuals estava melhor!
O segundo tempo também foi movimentado, e a lógica da primeira etapa não mudou muito: a equipe visitante criou as melhores chances. Aos 54', Strange novamente chegou perto, mas chutou para fora. Seis minutos depois, nova defesa de Huk em cabeceio de Mu. Em seguida, uma defesa dupla do goleiro do Dorking, negando a Josh Gallagher o gol salvador! Por quê, Huk?
— Corinthian-Casuals (@CorinthianCas) 29 de abril de 2017Aos 67', outra chance perdida, dessa vez com Danny Dudley. Já no fim do jogo, um gol anulado sob a alegação de falta de ataque (vídeo acima). Em seguida, uma grande chance desperdiçada por Okojie. O jogo iria pra prorrogação.
Jogo nervoso no tempo extra, mas um pouco mais aberto. Se Huk negou o gol a Warren Morgan e Max Oldham, Bracken também impediu a derrota ao defender chutes de Briggs (duas vezes) e Beecroft, já no fim do segundo tempo. Os pênaltis se tornaram inevitáveis. E com eles, veio a decepção: após nove cobranças perfeitas, uma perdida. Era do Casuals... era a da derrota.
Não esperava ficar tão triste, mas fiquei. Não com o time, pois ganhar e perder faz parte do futebol, e eu estou certo de que eles sabem melhor disso que eu. Afinal, são os herdeiros do clube que mais honrou o fair play na história do futebol, o Corinthian FC.
A tristeza, talvez, seja por ver um trabalho que ao longo da temporada foi feito com tanto esforço, tanta dedicação, terminar assim. O esporte competitivo, às vezes, é muito cruel, e volta e meia essa crueldade atinge os alvos errados. Hoje, isso aconteceu, com certeza.
A única maneira de honrar nossas tradições, no entanto, é fazendo a única coisa possível: se levantando e trabalhar para tentar de novo. Mesmo derrotado em campo, certamente esse time pode se sentir vitorioso fora dele. Foi doído, mas estamos orgulhosos, Casuals. Parabéns pela entrega, e lamentamos pelo sofrimento.
Times especiais não mereciam sofrer.
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