Fábio Carille volta para arrumar o que ajudou a destruir

Carille retorna ao Corinthians seis meses depois de sair, atraído por um "projeto irresistível" no Al-Wehda (Foto: Marcos Ribolli)

O blog está de volta, depois de alguns meses de muito trabalho fora daqui - e de muita tristeza por causa desse segundo semestre terrível do Corinthians. Curiosamente, nosso último post falava sobre a saída do treinador Fábio Carille, e agora volta falando sobre seu retorno ao clube, aclamado pela torcida como um salvador da pátria, praticamente. Enfim.

A resposta empolgada da torcida tem razão de ser. Nada mais deu certo depois que o Carille foi embora pro Al-Wehda, levando consigo metade da comissão técnica e - aparentemente - toda a vontade que o elenco tinha de jogar bola. O Osmar Loss bem que tentou continuar o trabalho, mas deu ruim. Aí chegou Jair Ventura, que até foi vice-campeão da Copa do Brasil, mas só venceu 4 de 19 jogos e obviamente acabou demitido.

E então, a diretoria anuncia o que já se suspeitava há algumas semanas: Fábio Carille retorna ao clube, menos de 6 meses depois de sair. E a minha reação a isso, pra ser bem sincero, ainda é dividida.

Dentro de campo, é claro que é no mínimo uma boa aposta. Ele esteve no clube por 10 temporadas, sabe como as coisas funcionam por lá e conhece o elenco, afinal indicou a contratação de alguns e chegou a treinar quase todos. Acredito que ele talvez seja capaz de, pelo menos, extrair dos jogadores mais futebol do que esse que vinha sendo jogado no segundo semestre.

Mas eu não consigo deixar de ter essa sensação de que, ao voltar dessa forma, com toda essa pompa e aclamação, é quase como se o Corinthians premiasse o Carille pelo caos generalizado que ele mesmo causou, fazendo nosso 2018 ser um ano perdido a partir de junho.

SIM, eu sei que Loss tem culpa, Jair tem culpa, jogadores e diretoria também. MAS foi a saída de Carille o estopim para todas as crises que vivemos. Em primeiro lugar, porque ela foi totalmente inesperada, em um momento de jogos decisivos em sequência onde tudo que o Corinthians precisava era de paz. Em segundo lugar pois junto com ele, saíram pelo menos 8 membros importantes da comissão técnica, ferindo de morte a rotina de trabalho do staff corinthiano. E em terceiro lugar, pois a crise iniciada ajudou a facilitar o ambiente para o desmanche no elenco que, se não era top, ainda estava muito competitivo. Ou seja: ao sair, querendo ou não o Carille acabou com nosso ano.

Além disso, fico muito receoso sobre as mudanças de postura dele como treinador. Parece que a cada instante, a palavra dele tem um peso diferente! Quando foi efetivado e ainda não tinha a confiança de todos, treinar o Corinthians era "a chance da vida". Depois de ganhar o Paulista e se firmar, chegou a dizer que não iria pra outro clube "nem por um caminhão de dinheiro", e só sairia se fosse demitido (veja abaixo). Reforçou isso ao renovar seu contrato em setembro, e em seguida venceu o Brasileiro, coroando-se como o melhor técnico do país de 2017. Manteve o desempenho em 2018, ganhando de novo o Paulista, e só foi aumentando sua ligação com a torcida.

Mas aí, justamente nessa hora, bem quando tornava-se unanimidade no Corinthians, Carille resolve quebrar o contrato recém-renovado e a promessa de sair do clube apenas se fosse demitido. Pelo menos não foi por um caminhão de dinheiro, mas por dois - como disse ao ironizar a própria promessa, antes de fechar com os árabes. Chorou na despedida, mas disse que fechou pelo "projeto" do Al-Wehda. Tá.

Só que, menos de um ano depois, parece que o encanto acabou, e o tal "projeto" deixou de ser tão assim, incrível. Sem fazer muita força, o Corinthians foi lá e o convenceu a, mais uma vez, quebrar um contrato menos de um ano após assiná-lo. Percebem a facilidade com que ele se convence a mudar de ares? E o senso de compromisso, fica onde nessa história?

Meu medo é de que aconteça de novo. A temporada 2019 promete ser difícil, e apesar de tudo indicar que Carille pode fazer um trabalho, a coisa pode desandar. A torcida entrou num hype absurdo com o anúncio do seu retorno e pode se decepcionar se os resultados não acontecerem. Como será sua reação às críticas se isso acontecer? E se outros caminhões de dinheiro ou projetos mirabolantes aparecerem, ele vai recusar ou vai novamente largar o Corinthians no meio de uma temporada?

Espero que nada disso aconteça. Que nossa próxima temporada seja digna e cheia de vitórias. Mas torço mais ainda para que, dessa vez, Fábio Carille tenha mais palavra e respeite um pouco mais essa instituição centenária que tanto amamos e que é muito, mas muito maior que ele.

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