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domingo, 20 de agosto de 2017

Em defesa de Felipe Garraffa

Vagner Mancini na coletiva após o jogo em Itaquera (Foto: Reprodução / YouTube)
Apesar do título desse texto, eu não acho que o Felipe Garraffa precise de alguma defesa. Mesmo que precisasse, creio que ele tem capacidade de fazê-lo. Mas quando um profissional é acuado por quem quer que seja, apenas por estar fazendo seu trabalho, é necessário se posicionar.

O jogo já havia acabado, a invencibilidade do Corinthians havia caído e o Vitória comemorava (com razão). Na coletiva do time baiano, um Vagner Mancini satisfeito com o resultado, respondendo com satisfação às amistosas perguntas dos repórteres. Até que alguém perguntou algo que o incomodou.

O repórter da Rádio Bandeirantes iniciava sua pergunta citando os números do primeiro tempo do jogo, que terminou com o Corinthians acumulando 78% da posse de bola e chutando 12 vezes a gol, contra apenas uma do Vitória (justamente a que entrou na meta de Cássio). Enquanto perguntava, porém, Garrafa acabou cometendo um ato falho e afirmou que os números eram dos 90 minutos - algo que poderia facilmente ser corrigido, se não tivesse sido motivo suficiente para Mancini iniciar um espetáculo de truculência e falta de educação, questionando abertamente a capacidade profissional  do repórter, e sugerindo que ele estava ali como torcedor, e não a trabalho.

O pior de tudo, talvez, tenha sido constatar que a grosseria foi gratuita. Afinal, após Garraffa ter concluído a pergunta, que estava longe de ser clubista ou desrespeitosa ("a estratégia do Vitória era jogar por uma bola?"), Mancini usou seus argumentos para refutá-la. Falou sobre as chances de gol da equipe no segundo tempo, e também sobre o gol mal anulado. Mostrou que poderia simplesmente ter rejeitado a tese apresentada pelo repórter, e que tinha razão de ser ao se olhar o scout do primeiro tempo. Ao invés disso, infelizmente Mancini preferiu colocar em dúvida a boa fé do profissional que ali estava, além de se esconder por detrás de um coitadismo sem sentido, acusando a imprensa de ser parcial e de diminuir o feito do Vitória somente por ser um clube de outro estado.

Desde então, a racionalidade deu espaço à panfletagem, e Mancini se tornou o novo herói (sem capa) dos que vivem para denegrir qualquer um que seja visto como "representante" da chamada "imprensa gambá". A internet já está inundada com memes, gifs e videos sobre como o treinador "humilhou" o "pseudorepórter corinthiano". Outros foram além e desenterraram tweets de 2011 do repórter, onde ele fazia o que praticamente todas as pessoas do Brasil fazem sem merecer condenação: torcia pelo seu time. Mas aparentemente, aos jornalistas não cabe esse direito. Jornalista não pode torcer. Ou será que só não pode se ele for corinthiano?


Enquanto eu assistia novamente o video da coletiva, fiz um exercício de empatia e me coloquei no lugar do Felipe. Especialmente quando ele teve de ouvir o Mancini sugerir que sua pergunta era motivada por corinthianismo. Eu já tive opiniões questionadas da mesma forma. Às vezes, na falta de argumentos, só resta ao outro lado procurar maneiras de desqualificar suas intenções. E não há nada pior para um jornalista do que ver sua capacidade profissional jogada no lixo, apenas porque o entrevistado não gostou da sua abordagem. É uma postura baixa, pequena, e acima de tudo desnecessária, pois o treinador poderia ter refutado a pergunta sem recorrer a isso.

Infelizmente, as pessoas de um modo geral parecem acreditar que nós, jornalistas, somos robôs. Só que não somos. Nós temos gostos, preferências, convicções, opiniões. E mesmo assim, temos a obrigação profissional de apresentar todos os lados de um fato e ouvir todas as versões - mesmo as que vão contra os nossos gostos, preferências, convicções e opiniões. Isso é ser PROFISSIONAL, afinal de contas. Se começarmos a acreditar que as convicções estão acima do profissionalismo, então precisamos colocar em dúvida uma série de classes produtivas. Imaginem se descobríssemos o time de coração do Vagner Mancini e colocássemos em dúvida os resultados das equipes por ele treinada contra esse time?

Enfim. Eu não conheço o repórter. Mas deixo aqui todo meu apoio a ele, e ao direito dele de exercer sua função sem sofrer questionamentos por causa do time que torce. Ele certamente estudou muito para isso, e não merece sofrer qualquer descrédito porque um treinador não consegue controlar a grosseria. Siga firme, Felipe.

EDIT: Enquanto escrevia esse tempo, li essa notícia sobre um suposto áudio vazado do Vagner Mancini, onde ele celebra a vitória da sua equipe e celebra o fato de ter "dado uma patada" em um "jornalista babaca corinthiano". Ainda não se confirmou se o áudio é de fato do treinador, mas vale o registro. A conferir.

EDIT 2: A veracidade do áudio foi confirmada, e sua repercussão provocou um pedido público de desculpas do treinador. Na declaração, ele diz que "respeita" o Corinthians e sua torcida e "não quis ofender" ninguém, apesar das palavras ofensivas usadas. Pena que só tenha admitido que se excedeu diante do vazamento das ofensas... aí é fácil. Mas fica o registro, também.

7 comentários:

  1. Mancini Não foi grosseiro, pelo contrário, escutou e oportunizou o "jornalista corinthiano" de formular sua tendenciosa constatação. Fica a dica para a imprensa paulista de que o restante do Brasil tb pode fazer futebol. O Brasil é grande!!!

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    1. Pra gente como você, anônimo, é assim: ou o jornalista faz perguntas agradáveis ou é tendencioso. A gente fica até sem ter o que argumentar mais, é como dar murro em ponta de faca.

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    2. Acho bom avaliar as manifestações dos leitores, mesmo que sejam anônimos. Sua defesa ao colega está falha. O técnico não foi grosseiro. Eu assistia programas esportivos de São Paulo, mas pela imparcialidade da maioria dos jornalistas deixei de perder meu tempo. É claro existem bons profissionais, mas existem muitos torcedores com microfone fazendo colocações tendenciosas. O seu colega foi muito infeliz e não conseguiu ser jornalista no momento da pergunta, mas um simples torcedor com microfone.

      Elmer Teodoro Jagnow

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    3. Eu tanto avalio, Elmer, que aprovo o comentário e deixo aqui, à disposição de quem quiser ler. Isso não significa que eu deva concordar com eles. Especialmente quando a má vontade em ponderar o ocorrido é flagrante. A questão aqui é que não importa o que seja dito, quando a pessoa está condicionada a ver má-fé, ela vai ver má-fé. Não importa o que eu escreva, arguente, pondere. Pra essas pessoas, o texto é realmente inócuo. Ele é voltado, na realidade, para os que se abrem a refletir sobre o acontecido, sem partir da premissa covarde de que o repórter na verdade era apenas um torcedor disfarçado, como se o erro cometido na formulação da pergunta fosse na verdade um desrespeito intencional ao Vitória. Nunca vou concordar com isso, e se você não pensa assim, eu respeito, mas é só.

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  2. O maior defeito do ser humano é a soberba quando se está por cima. Mancini não soube vencer e desabafou, sabe-se lá o porquê, em cima do jornalista que estava apenas fazendo uma pergunta pertinente, dentro do contexto do jogo como de fato foi.
    Atitude infeliz e amadora, passando aquela mensagem arcaica, retrógrada, obsoleta do "nós x eles", a qual todos estamos fartos e que gera toda essa intolerância, ignorância que assolam o meio do futebol como um todo.
    Mancini é um ser humano passível de erro como qualquer um, porém aproveitou-se da situação vitoriosa, pela qual possui grandes méritos, para expor de forma desnecessária sua empáfia frente ao profissional na imprensa que ali se encontrava no exercício de suas prerrogativas como repórter.

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  3. Felipe Garrafa é profissional fraco! Fraco em trabalho por ter levado as estatísticas erradas e fraco de cabeça por ter feito a pergunta da maneira errada o que a tornou tendenciosa sim.

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  4. O tal Garraffa fez por merecer a invertida que levou. Quem fala o que quer, muitas vezes ouve o que não quer. A defesa do cidadão representa puro corporativismo. É defender o indefensável. Tem o microfone nas mãos, então que cuide mais das palavras e não se coloque o dono da verdade/razão.

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