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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Extinguir a Gaviões só resolve o problema para os hipócritas


Domingo, 25 de agosto de 2013. Estádio Mané Garrincha. Pelo Campeonato Brasileiro, se enfrentam Vasco e Corinthians.

Sempre que esses dois times se enfrentam, todos se ressabiam. Pois as torcidas de Vasco e Palmeiras são próximas, como co-irmãs. Cruzmaltinos recebem apoio de palmeirenses em São Paulo, enquanto alviverdes recebem apoio de vascaínos no Rio de Janeiro. Isso não é especulação. É fato, notório e comprovado.

Por isso mesmo é que quando Vasco e Corinthians jogam, o reforço policial é redobrado. E ainda assim, confrontos são previsíveis, quase esperados.

Mesmo sabendo disso, sabe-se lá por que, as autoridades permitiram que ambas torcidas ocupassem o mesmo espaço nas arquibancadas da nova arena de Brasília. Talvez esperassem que, devido ao fato de o estádio ser de primeiro mundo, as torcidas TAMBÉM passassem a ser assim que adentrassem no recinto. Só que não né, nenhuma arena faz mágica. Nem quando ela custa mais de R$ 1 bilhão.

A briga mais do que esperada aconteceu. E a reação da mídia foi vergonhosa.

Vergonhosa, pelo menos, para os que sabiam que, hoje em dia, não dá pra realizar jogos entre rivais sem divisão de torcidas. Simplesmente não dá. Uma semana antes, no dia 18 de agosto, Flamengo e São Paulo se enfrentaram no mesmo local e houve confronto. E esses dois times não são tão rivais quanto Corinthians e Vasco.

Ainda assim, os órgãos de imprensa reagiram às brigar de domingo com uma surpresa inexplicável! Surpresa? Sério mesmo???

Mas o discurso, ainda que seja hipócrita ao extremo, angaria seguidores. E então, as bandeiras pela torcida única, pela extinção das organizadas e pela punição de tudo e de todos voltam a se levantar com fervor pelos moralistas de plantão.

Pena que não os vejo exigir com tanto fervor assim ações nem tão midiáticas, mas que resolveriam grande parte dos problemas.

E se os hipócritas dissimulados, ao invés de exigir o fim das organizadas (a Gaviões é a bola da vez) exigissem que estas expulsassem de seus quadros os responsáveis pelas brigas? Expulsassem mesmo, sumariamente? Pois um fato é inegável: as organizadas NUNCA vão ser extintas. Elas SEMPRE irão se reinventar. O que pode ser feito é conscientizá-las de sua função social dentro do futebol, e cobrar delas ações reais contra a violência dentro do esporte.

E se os revoltosos caras-de-pau, ao invés de clamar pela torcida única, resolvessem desistir de querer transformar nosso futebol em uma cópia piorada do futebol europeu e percebessem de vez que ainda não estamos prontos pra misturar torcidas em jogos entre rivais? Pois a chegada das arenas não zerou as rixas entre essas torcidas, e SEMPRE uma vai querer se vingar da outra, por causa de uma briga anterior. É um círculo vicioso que a impunidade só faz alimentar.

E se os falsos moralistas de plantão, ao invés de procurar resolver essa questão através dos mesmos paliativos de sempre, provadamente INEFICAZES, não exigem soluções REAIS das autoridades que não oferecem segurança de verdade ao torcedor? Por que não exigir que a Polícia entenda de vez que quantidade não é igual a qualidade, e que enfiar 400 policiais despreparados dentro de um estádio não significa que o torcedor de verdade está sendo protegido? E a inteligência policial, onde fica? Por que não cobrar a prisão e (mais importante) punição DE VERDADE para aqueles que provocam e participam das brigas?

O caminho para acabar (ou reduzir muito) a violência no futebol brasileiro não está na extinção das organizadas. Para o bem ou para o mal, elas são parte do espetáculo, e não vão se extinguir, mas somente se reinventar. Até que isso seja verdadeiramente compreendido e assimilado pelas autoridades responsáveis pelo futebol no Brasil, nenhuma medida ou atitude terá efeitos práticos. Pelo menos não para os que querem realmente o fim da violência.

Todas são grandes nações do futebol que ficaram marcadas por conta da violência não resolveram seus problemas com medidas "pra inglês ver", mas sim com ações práticas. E é disso que o futebol brasileiro precisa. Mas os organizadores do espetáculo devem assumir de vez suas responsabilidades, e não mais procurar transferi-las para os que não podem responder por todos os problemas do futebol.

--x--

P.S.: Lamentável o oportunismo dos jornais e programas de TV, aproveitando o episódio de domingo pra culpabilizar os corinthianos inocentados no caso Kevin. Como se a participação deles na briga provasse que eles eram culpados pela morte do garoto, em Oruro. Oportunismo baixo e barato, que não pode ser chamado de jornalismo. Qualquer cidadão de boa-fé entende que não cada caso foi um caso.

Só que, mais lamentável ainda, é ver que esses corinthianos ficaram mais de 150 dias em uma cadeia fétida num país de terceiro mundo, não faz nem um mês que voltaram ao Brasil e nem assim aprenderam alguma coisa. Fica difícil entendê-los. E defendê-los, também.

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