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sexta-feira, 17 de maio de 2013

Caso Braghetto: parabéns, fiscais da moralidade

Essa imagem aí do lado é um print, que acabei de tirar. Trata-se de uma página fixa do site da empresa APTO Esportes, que presta assessoria e realiza eventos esportivos.

É fácil achar essa página na internet. Jogue no Google "APTO Esportes" e "Clientes" e você a encontrará. Vai lá, tenta. É o primeiro resultado recomendado. Caso queira evitar a fadiga, segue o link.

Olhando a imagem, você verá que Portuguesa, Corinthians e São Paulo são clientes da Apto. Assim como o Sesc, o Sesi, algumas Prefeituras e Federações.

Fuçando o site, você irá descobrir que um dos sócios dessa empresa é o árbitro Rodrigo Braghetto, o juiz sorteado para apitar a final entre Santos e Corinthians, no domingo.

Ou melhor, que apitaria. Uma série de pataquadas e desmentidos tirou de Braghetto o sonho de apitar o jogo de sua vida, além de fazê-lo decidir por se aposentar, há algumas horas.

Seu crime? Ser sócio de uma empresa presta consultorias pra times grandes e ao mesmo tempo, apitar jogos desses times.

Vamos voltar um pouco e falar do Rodrigo Braguetto.

Ele é formado em Administração e em Educação Física, e pós-graduado em Ciências do Esporte. Além disso, é árbitro de futebol há 17 anos. Uma vida, praticamente. Já deve ter participado de jogos de todos os times grandes de São Paulo e do Brasil, talvez. 

Nesse meio-tempo, assim como talvez todos os outros juízes, fez amizades com dirigentes e jogadores de um sem-número de clubes. E isso não pode ser condenável. A convivência leva à amizade, e isso nunca foi motivo para suspeitar da índole de ninguém. Fosse assim, ninguém, em absolutamente nenhuma profissão, estaria livre de desconfianças. Não é assim que funciona.

Segundo ele, em entrevista para o Arena SporTV de hoje, seu sonho era apitar uma final de Paulista. E a desse ano é especial. Pode ser o último jogo de Paulinho e de Neymar - sim, chances remotas, mas enfim. E ele havia sido sorteado. 

Triste sorte. "Denúncias" de que ele era "pago pelo Corinthians há dois anos" começaram a pipocar ali e aqui. Enfim, tanto se repercutiu, tanto se falou, foi tamanho o mimimi que a FPF anunciou que faria outro sorteio. 

Primeiramente, surgiu a informação de que ele havia pedido pra sair. Mas ele mesmo negou isso. "Não pedi, vinha me concentrando para realizar o sonho da minha vida que é atuar em uma final de Paulista. O Coronel Marinho me ligou e pediu para eu sair para evitar problemas futuros", disse.

Coronel Marinho já veio à imprensa para dizer que não sabia do relacionamento da empresa de Braghetto com o Corinthians, e que devido à repercussão que o assunto tomou, foi necessário o veto ao nome dele. 

No entanto, o próprio Coronel Marinho afirmou, à SporTV, o seguinte: "Conheço a figura do Braghetto, sei que presta serviços e não vejo problemas. Mas houve uma repercussão e para evitar qualquer celeuma, optamos por retirá-lo". Ou seja, ele foi vetado exclusivamente para evitar polêmicas, e não pelo suposto conflito de interesses.

A única coisa que foge da realidade é que a FPF não soubesse do vínculo da Apto Esportes com Corinthians, São Paulo e Portuguesa. NÃO SABIAM??? Essa informação é PÚBLICA, minha gente!!!

Braghetto: vencido pela desconfiança BEM seletiva dos moralistas de plantão
Esse é o momento em que me ponho a perguntar: se Braghetto nunca escondeu que tinha o Corinthians como cliente, porque isso nunca o impediu de apitar jogos do time? E do São Paulo? E da Portuguesa? Porque duvidar de seu caráter somente agora, nesse jogo?

Porque jogar no lixo a credibilidade de um juiz que, em cinco anos, apitou 11 jogos do Corinthians e em nenhum cometeu qualquer erro decisivo? O que motiva um acusador a questionar a idoneidade de um profissional sem qualquer tipo de indício que baseasse essa desconfiança?

Fico me perguntando... se ele realmente fosse corrupto, como será que ele fazia em jogos entre "clientes", como Corinthians x São Paulo??? Será que ele fazia uma reunião com os clubes pra planejar o resultado e todos ficarem felizes? Ah vá!

Suspeitar do Braghetto por causa de sua atividade extra-campo é uma ação temerária e desmedida... beira a cretinice. Ainda mais em um país onde os árbitros precisam trabalhar pra viver, pois a atividade não é  profissional.

E assim o é pois interessa tanto à CBF quanto às Federações manter com os juízes esse vínculo amadorístico, obrigando-os a atuar em nível profissional, mas alheios de seus direitos como trabalhadores. Para se condicionarem e atuarem em alto nível, precisam se desligar de seus empregos regulares, ou então se afastarem... e quando a solução é trabalhar no ramo do futebol, acabam por ter sua credibilidade colocada à prova por uma meia-dúzia que faria o Brasil parar se cobrasse tal conduta de todos os profissionais.

A vocês, que já conseguiram aposentar o Braghetto por pura desconfiança, apenas um recado: tirar o Braguetto do jogo NÃO VAI IMPEDIR que haja erros no domingo. Pelo contrário: estou quase certo de que eles vão ocorrer, pois "faz parte do jogo", não? 

Afinal muitos de vocês acham lindo quando a partida se decide pelas mãos do juiz. Muitos de vocês soltaram fogos ao ver o que aconteceu na quarta-feira. Devem ter gozado a cada erro do Amarilla.

E agora esperneiam a troco de uma suspeita. Viva a hipocrisia.

Uma parte de mim está quase torcendo para que o juiz erre contra o Corinthians. E que a gente vença mesmo assim. Assim, talvez vocês aprendam definitivamente que, quando o futebol quer, ele vence. Pode demorar, mas ele vence. 

Sobre o Braghetto, só lamento. Não consigo imaginar o tamanho da decepção que ele deve estar sentindo. Ártibtros e bandeiras se sujeitam a várias adversidades para trabalharem com o que gostam de verdade. Ninguém é juiz à força: faz porque ama. E ser forçado a deixar essa vida por conta de meia dúzia de babacas deve doer.

Espero, sinceramente, que o futebol TAMBÉM vença pra você, Rodrigo Braghetto!


Um comentário:

  1. Grande Daniel, seus textos, em minha humilde opinião, já estão entre os melhores do jornalismo esportivo!
    Aos comentários.
    Concordo plenamente com você em tudo que escrevera, mas em relação à SUSPEIÇÃO, me permita algumas observações e até uma ou outra discordância. Nada que em suma desvirtua a sua razão.
    Como sempre em ótima lavra, você trouxe à tona uma informação importante, de que a FPF não está sendo clara ao alegar que não sabia da existência da empresa do BRAGHETTO. Não há meios de se acreditar nessa informação.
    Lamentavelmente, o árbitro de futebol aqui no Brasil é tratado como amador, obrigado a ter uma segunda fonte de renda (ou uma primeira), sob pena de fome caso deixe de arbitrar.
    Ocorre que o instituto da suspeição não se dá com o aperfeiçoamento de certas relações, digo, o fato de estarem sempre juntos no mesmo ambiente, de participarem de eventos em comum a interesse das classes (árbitros e atletas, diretorias, etc). Se dá por força de DETERMINADAS RELAÇÕES EM ESPECIAL, o que diferencia uma condição da outra. No caso do Braghetto, penso que ele é suspeito para arbitrar a partida não por causa de uma relação que se aperfeiçoou, mas sim por causa de uma relação superveniente, qual seja: de cliente/ prestador de serviço, ainda que pessoa jurídica e física sejam diferentes perante a lei. Contudo, Daniel, sou obrigado a concordar com você por força das informações que você trouxe à tona, de que outros grande times do Estado, bem como outras empresas, sendo ainda que ele continuou arbitrando jogos dessas equipes, inclusive, entre elas.
    Logo, agora sim estamos diante de uma situação onde houve um APERFEIÇOAMENTO DAS RELAÇÕES, ou seja, se isso já estava ocorrendo sem que houvesse qualquer problema, o relacionamento passou a ser aceito (aperfeiçoou), pelo que, é incoerente declarar a suspeição do árbitro somente agora.
    Sou a favor das regras de SUSPEIÇÃO e IMPEDIMENTO, todavia, no caso do Braghetto, elas tinham que ser arguidas lá atrás, e não agora no momento em que a relação já está mansa e pacífica perante todos.
    Apenas para acrescentar, as regras de IMPEDIMENTO e SUSPEIÇÃO, visam preservar o ambiente (o jogo, o processo, etc.), o suspeito e o excipiente (quem argui a suspeição na via de exceção). Não se trata de mera desconfiança em si ou na crença absoluta de que o suspeito será parcial nas interpretações, mas sim de se evitar que a má credibilidade recaia sobre o ambiente que haja a atuação das partes envolvidas. É ato formal, meramente formal.
    Porém, mesmo no processo judicial, a arguição de suspeição é seguida da resposta do suspeito (o que não houve com o árbitro), podendo ser acolhida ou refutada (direito de defesa), ademais, DEVE SER MANIFESTADA NO MOMENTO OPORTUNO e não a "posteriori", depois de vários atos já praticados, principalmente se já era sabido da condição suspeita, como no presente caso.
    Sendo assim, sou favor das regras de suspeição, mas me redimo ao entender que elas NÃO SE APLICAM NO PRESENTE CASO, ante o fato da relação ter se aperfeiçoado sem que houvesse qualquer infortúnio, ou reclamações das partes, que, reitero, já sabiam que essa condição era existente.
    De coração mesmo, lamento pelo Braghetto.

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