CBF sorteou no dia 8 os árbitros para as partidas da 5ª a 6ª rodadas do Brasileirão (Foto: Reprodução/CBF TV) |
Esses sorteios são feitos ao vivo pelo ex-árbitro Cláudio Vinícius Cerdeira e pelo presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Marcos Marinho, e transmitidos pelo Youtube. Já faz algum tempo que é assim, aliás. E antes de toda cerimônia, é feita uma explicação de como ele funciona: é feita uma pré-seleção de árbitros, onde dois árbitros são encaminhados para cada uma das partidas da rodada. Essa pré-seleção considera alguns critérios, que acabam excluindo muitos nomes - muito mais por precaução do que qualquer outra coisa. Os critérios são esses:
- Fase da competição;
- Importância de grau de complexidade da competição;
- Qualificação, condicionamento físico e performance dos árbitros;
- Jogos de clubes da federação de origem;
- Jogos de clubes da federação atual;
- Atuação em partidas de uma das equipes na rodada anterior;
- Árbitros cuja designação se mostrar desaconselhável aos interesses do futebol ou à carreira do próprio árbitro;
- Demanda jurídica entre as partes.
No sorteio (que você pode ver no vídeo acima), os árbitros pré-selecionados são colocados em duas colunas, chamadas pela CBF de "Alfa" e "Beta". A assistente, então, escolhe aleatoriamente seis bolinhas para fazer o sorteio - as ímpares representam a coluna "Alfa", e as pares a "Beta". Depois que todas são colocadas no globo, três são retiradas de lá, sendo que as duas primeiras são descartadas e a terceira é a usada para selecionar os árbitros. Se a escolhida é ímpar, os árbitros da coluna "Alfa" apitam a rodada, e se ela é par, os da coluna "Beta" apitam.
Print do relatório da CBF sobre o sorteio dos árbitros para as 5ª e 6ª rodadas do Brasileirão |
Dois dias depois do sorteio, uma página de palmeirenses no Facebook selecionou um trecho do final do sorteio, onde Cerdeira repassa os nomes dos árbitros sorteados para a rodada e erradamente lê os nomes da coluna "Beta". Marinho percebe o erro durante a leitura do nome de Wilton Sampaio para Corinthians x Palmeiras e corrige o colega, que em meio a uma crise de tosse interrompe sua leitura e se afasta do processo. Pois bem: a página palmeirense teve a cara-de-pau de extrair do vídeo apenas os segundos onde essa correção acontece para supostamente "denunciar" uma "marmelada" na escolha de quem apitaria o jogo, neste domingo. Irresponsabilidade ou má-fé? Nunca saberemos. Mas que é mentira, isso sabemos.
Print do vídeo que "denuncia" a "marmelada" no sorteio de árbitros da CBF |
Rotina de ameaças
O que mais preocupa, no fim das contas, é que esse comportamento virou rotina recente dessa torcida, infelizmente. Em 31 de março, causou choque a declaração de um integrante da Mancha, antes do jogo de ida da final do Paulista, falando abertamente em compra de árbitro e até mesmo no sequestro da mãe do técnico Fábio Carille. O árbitro desse jogo, Leandro Bizzio Marinho, relatou ter recebido nada menos que 25 mil mensagens ameaçadoras a ele e à sua família antes da partida - onde, aliás, teve atuação exemplar.
Já no jogo de volta, mais ataques por parte de palmeirenses, dessa vez através de uma fake news. Segundo várias mensagens veiculadas por WhatsApp e redes sociais, Marcelo Aparecido de Souza seria "corinthiano declarado", e dono de um bar "frequentado por Andres Sanchez e jogadores do Corinthians". O endereço do comércio foi espalhado, funcionários do local foram ameaçados. Familiares do árbitro, idem.
Após o jogo de 8 de abril, mais revolta e violência: a equipe de arbitragem recebeu tantas ameaças que não estavam trabalhando, seus filhos não estavam estudando e suas famílias sequer conseguiam sair de casa, o que motivou o Sindicato dos Árbitros a pedir ao Palmeiras que apelasse junto à sua torcida para que parassem com as ameaças. Não custa lembrar que, no entanto, mesmo um mês após o jogo, o clube insiste em questionar a isenção dos profissionais, desqualificando as decisões dos mesmos no caso da suposta "interferência externa".
Sem limites
Não há como saber até onde a intransigência e arrogância do presidente palmeirense Mauricio Galliotte, em não aceitar a perda do Campeonato Paulista, pode estar influenciando a torcida de seu clube a distorcer a verdade até as últimas consequências e fazer de tudo para pressionar a arbitragem antes da partida deste domingo. Mas que influencia, é certo.
Também é certo, aliás, que a rivalidade entre os clubes é enorme, mas a escalada de ódio demonstrada desde março pelos rivais não pode deixar de preocupar. Isso pois deixou de ser direcionada apenas ao Corinthians (o que já era ruim) para envolver agora os árbitros. Já são três em sequência, alvos e vítimas de verdadeiros crimes: montagens, edições, ameaças de morte. Difícil não pensar quer o objetivo é garantir uma vitória na base da intimidação, caso falte futebol a Dudu e companhia. Isso é torcer?
Por fim, só resta lamentar que as pessoas que poderiam influenciar a torcida a interromper com essa prática façam, na verdade, o inverso: alimentam as mentiras, pois elas ajudam no clima de guerra. Lamentavelmente, parecem se esquecer da dimensão de sua responsabilidade e das consequências de sua omissão. Lembremos apenas de José Arthur Tavares Martins Silva, que morreu ao ser atropelado por um palmeirense enquanto comemorava o título paulista, em Osasco. O que será que motiva atitudes assim?
Tudo o que resta é rezar para que as mentiras da vez não motivem nenhum ato de loucura neste domingo. Que todos se lembrem do que se trata o futebol. Vocês, torcedores do Palmeiras, se lembram?
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