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domingo, 23 de dezembro de 2018

É, vamos ter que falar sobre o Mundial de Clubes

Equipe espanhola comemora a conquista de mais um troféu do Mundial; foi a 11ª conquista europeia em 12 anos (Foto: Getty Images)
Terminou neste sábado mais um Mundial de Clubes da FIFA, com a esperada renovação do título por parte do Real Madrid (ESP) após golear o Al-Ain (EAU), campeão do país sede e carrascos do River Plate (ARG). Foi o terceiro título seguido dos espanhóis e o quarto na história do torneio.

Na real, eu sinceramente não queria ter que falar sobre o assunto antes do mês que vem, quando a FIFA deve anunciar as decisões do grupo de trabalho que foi convocado para propor mudanças no formato do torneio - algo que já comentamos aqui no blog em 2014.

Mas eu fui obrigado a adiantar esse post, ou pelo menos parte dele, para reagir a um curioso movimento que identifiquei nas redes sociais, especialmente no Twitter, liderado principalmente por alguns jornalistas que nós já conhecemos bem (e isso não foi um elogio). Segundo esse movimento, o Mundial de Clubes é um torneio tedioso e supostamente fracassado, e o domínio cada vez maior da Europa seria uma prova disso, e um sinal de que o atual formato é insustentável.

Marcel Rizzo, do UOL, disse que o torneio é o "fardo da FIFA". Mauro Cezar se recusou a dar à competição seu nome correto, chamando-o de "torneio da FIFA". Leonardo Bertozzi cravou que trata-se de um "passeio no parque" cuja disputa não tem sentido. E por aí vai. O tom é de desprezo, desvalorização.

O mais curioso disso tudo é o timing da coisa, e a incoerência em relação à postura dessa mesma imprensa no passado. É essa imprensa que, por exemplo, nunca se preocupou em apontar problemas na Copa Intercontinental, que até ontem não tinha seu status mundial avalizado pela FIFA. Em épocas como 2005 e 2006, anos dos títulos de São Paulo e Internacional, o Mundial da FIFA era o auge da disputa entre clubes, inquestionável em sua autoridade.
Internacional campeão mundial de 2006: nessa época o Mundial prestava (Foto: Daniel Boucinha)
Mas aí, o tempo passou. E com ele, algo começou a acontecer: as zebras. Os times de outros continentes se cansaram de fazer figuração e foram à luta: Mazembe em 2010 e Raja Casablanca em 2013 eliminaram Inter e Atlético-MG e aí. Para piorar tudo, em 2012 houve o quê? Sim, o título do Corinthians sobre o Chelsea - o último de um sulamericano e o único na história da competição em 12 anos. Só que ao invés de isso ser visto como um feito latino, é visto como "prova" de que o Mundial é um torneio fracassado. Qual o sentido nesse raciocínio?

Enfim: fica difícil, muito difícil, não ver os ataques direcionados ao Mundial de Clubes como fruto de um desdém, provocado pela incapacidade de alguns de exaltar qualquer coisa que venha do Corinthians.

A péssima notícia que trago, infelizmente, é que o problema está longe de ser o formato do torneio. Sim, sua fase final acaba tediosa se os favoritos não passam. Quem não queria ver o River Plate desafiando os merengues na decisão? No entanto, devemos ir além disso e fazer uma autocrítica, afinal não basta chegar lá e passar o jogo inteiro sem chutar a gol (né Grêmio?).

Meu ponto é: o domínio europeu no Mundial, tão lamentado e usado como motivo para acabar com o torneio, é consequência da atual realidade do futebol e - spoiler - é o caminho para o futuro, independente do que a FIFA decidir para o futuro. A partir do momento em que qualquer grande time do Velho Continente passa a montar com facilidade um elenco com valor superior a R$ 1 bilhão, fica difícil encontrar formas de superá-lo em um mata-mata. A prova disso é que só um time conseguiu isso: o Corinthians. E é por isso que esse feito é tão histórico.

O futebol sulamericano insiste em afundar no próprio amadorismo, e agora a Conmebol parece querer esconder isso em competições continentais inchadas e rios de dinheiro de premiação. Pode comprar o silêncio de cartolas, mas não esconde o retrocesso que nos permitiu assistir a 45% de seus representantes fracassando na simples tarefa de chegar à final do Mundial de Clubes. Uma vergonha tão grande que fortalece o lobby pela recriação da Copa Intercontinental, para eliminar a chance de continuar perdendo pra africanos e asiáticos.

Pessoalmente, entendo o que dizem algumas críticas racionais ao torneio. Tenho certeza de que ele precisa ser mais atrativo comercialmente, pois infelizmente (ou não) o futebol é dinheiro e sem ele nada acontece. Mas ao mesmo tempo, ele precisa manter seu caráter mundial, com os seis continentes representados, sem convites ou nada do tipo. Por isso acho trágico o projeto da FIFA de criar a competição de 24 equipes disputada a cada 4 anos, com alguns europeus "indicados" a participar. Não é o caminho.

Se EU fosse convidado a participar desse conselho que está discutindo o torneio, daria a seguinte sugestão: um torneio com 9 clubes: os 7 atuais mais os campeões da Liga Europa e da Copa Sulamericana. Mas a fórmula seria um pouco diferente:

  • Fase preliminar: Campeões do país-sede e da Oceania disputam um lugar na 1ª fase
  • 1ª fase: Campeões da Concacaf, Ásia e África, mais o vencedor da preliminar, disputam duas vagas via mata-mata
  • 2ª fase: Os 4 times da UEFA e Conmebol, mais os classificados da 1ª fase, são sorteados em 2 grupos (Campeão da Champions, Sulamericana e um classificado da 1ª fase no Grupo A e campeão da Europa League, Libertadores e o outro da 1ª fase no Grupo B) e disputam triangulares
  • Final: entre os vencedores dos grupos
Vai dizer que esses caras aí não davam um belo gás no Mundial de Clubes? (Foto: Getty Images) 
Esse torneio faria europeus e sulamericanos disputarem um jogo a mais que no formato atual, e acho que esse seria o único problema do formato. Seu prazo de disputa se ampliaria em uma semana, mas para os times de outros continentes apenas. Além disso, possui uma fase de grupos que permite à competição ter pelo menos 2 confrontos entre os continentes mais importantes - e que podem ser 4, ao contrário do que ocorre hoje, quando o Mundial pode terminar sem que UEFA e Conmebol se enfrentem. Mais times de expressão, mais jogos de envergadura, mais audiência, mais dinheiro.

Mas essa é minha ideia, apenas. Modelada após refletir sobre um problema que existe, mas que não vai se solucionar sozinho. Será que os caros colegas que se dedicaram tanto esses dias a criticar o Mundial de Clubes nas redes também têm suas ideias melhorar o torneio, ou o ranço pelo torneio é gratuito? Será que é só amargura por ver apenas o time mais odiado do Brasil conseguir superar um europeu no torneio? Mistério...

E você, o que acha de tudo isso? Também acha o Mundial dispensável? Tem ideias para melhorar a competição? Comente abaixo!

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