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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Se o Cruzeiro é tri, o Corinthians é octa


Bom, nem vou entrar no mérito do modo como o campeão do Brasileirão desse ano foi sacramentado: no intervalo da sua partida. Graças à incompetência da CBF que, ciente da possibilidade de o título vir nessa rodada, não colocou a partida do Atlético-PR, vice-líder, no mesmo horário do jogo do Cruzeiro.

Claro que isso não mudaria nada, os mineiros seriam campeões de qualquer jeito, mas se trata de organização, de profissionalismo, de um mínimo de isonomia. Já não basta os jogos em datas FIFA, a falta de respeito com jogadores e torcedores, a passividade para com a Globo e tudo o mais que está transformando nosso Brasileirão em um campeonato com emoção reservada somente à disputa pelas vagas na Libertadores e contra o rebaixamento.

Isso tudo à parte, esse título do Cruzeiro traz à tona outra discussão que eu já vi pipocar em alguns sites e blogs, como no do Mauro Cezar Pereira, da ESPN: afinal, os mineiros são bi ou tricampeões???

Uma discussão que beira o ridículo e que só acontece porque a CBF (sempre ela rs) decidiu emoldurar a História segundo os seus critérios e interesses, ganhando assim aliados eternamente gratos por conta da sua generosidade.

Afinal, por qual motivo além desse a CBF teria que reconhecer a Taça Brasil e o Robertão como equivalentes ao Campeonato Brasileiro, se esses são dois torneios que sempre foram de caráter nacional???

Nunca vi alguém questionar que esses dois torneios eram os campeonatos nacionais disputados entre 1959 e 1970. Mas, ao torná-los Campeonatos Brasileiros, a discussão estava armada. E por três motivos.

1 - O Torneio Roberto Gomes Pedrosa existia desde 1954

Pois é, ele não foi criado em 1967, mas sim em 1954: simplesmente tratou-se do novo nome do Torneio Rio-São Paulo!

Roberto Gomes Pedrosa foi o goleiro da Seleção Brasileira na Copa de 1934, e morreu em 1954. Fi um grande dirigente, chegou a presidir a FPF, e sua morte foi um grande choque. Para homenageá-lo, então, seu nome foi dado ao Rio-SP. Duvida?

Veja abaixo uma página digitalizada do jornal Mundo Esportivo, de 7 de maio de 1954. Para ampliar, é só salvar a imagem e dar zoom.
Mundo Esportivo de 7 de maio de 1954
Zoom do trecho grifado na página acima
Foi exatamente por isso que a CBD criou a Taça Brasil, em 1959, para indicar o representante brasileiro na Taça Libertadores: porque o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, que já existia, só contava com times de São Paulo e do Rio de Janeiro!

O que ocorreu em 1967, na verdade, foi a ampliação do número de times do Robertão, com o convite de times de outros estados. Não foi, assim, uma nacionalização: foram chamados cinco times de três estados, todos do Centro-Sul do país: Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio, Inter-RS e Ferroviário-PR. Mas, de fato, o torneio não era mais um mero Rio-SP. Tanto que essa edição do Robertão ainda foi organizada pelas federações estaduais de futebol de SP e RJ... somente a partir de 1968 a organização passou às mãos da CBD.


Outro problema é que a edição de 1967 do torneio não deu ao seu campeão vaga na Libertadores. Nem ao campeão de 1968. E nem ao campeão de 1969. Somente Fluminense e Palmeiras, campeão e vice do Robettão-1970, foram à Libertadores no ano seguinte!

Então, me digam: que torneio nacional é esse que nos 13 primeiros anos só reuniu times de RJ e SP, foi organizado por entidades estaduais até sua antepenúltima edição e que só deu vaga à Libertadores para o seu último campeão?

Enfim.

2 - A Taça Brasil era uma Copa, não um Campeonato

E sim, entender isso é essencial pra se entender como não faz sentido igualar essa competição ao atual Campeonato Brasileiro. As fórmulas de disputa não são iguais. E em nenhum lugar do mundo essa mistura acontece. Campeonato é campeonato, copa é copa! Simples assim!

Usando o exemplo que o Mauro Cezar usou no seu texto: na Inglaterra, o West Bromwich venceu a primeira FA Cup em 1888, quando não havia Campeonato Inglês. Nem por isso, hoje em dia, eles consideram esse torneio como uma versão antiga da Premier League, oras!

Mas voltando: a CBD criou a Taça Brasil com dois propósitos: acabar com o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, para em seu lugar criar de fato uma competição nacional de clubes; e também para indicar o representante do país na disputa da Taça Libertadores, cuja criação fora decidida em congresso da CONMEBOL em 1958.

Por duas vezes, seu campeão não foi à Libertadores: em 1966 e 1969. Em 1966 porque a CBD não quis indicar Santos e Vasco, campeão e vice da Taça Brasil de 1965 por não concordar com a inclusão dos vice-campeões nacionais no continental. E em 1969, porque no ano anterior a Taça Brasil teve problemas de calendário que atrasaram sua conclusão por 4 meses, impedindo a participação dos times na Libertadores.

Em 1968,, aliás, esse problema de calendário da Taça Brasil fez a CBD passar as vagas à Libertadores para o campeão e vice do Robertão. Mas como esse torneio também não acabaria a tempo, ninguém disputou a Libertadores no ano seguinte. Sem dar vaga à Libertadores, Santos e Palmeiras saíram da disputa da Taça, e a edição de 1968 acabou sendo a última, deixando o Robertão como o único torneio nacional em disputa no Brasil.

3 - Se eles valem, a Copa do Brasil deve valer também

Maaasss... tenho que ser coerente. Se é fato que nem Robertão e nem Taça Brasil podem ser comparados ao Brasileirão, também é fato que eram competições nacionais. Por mais problemas que esses torneios pudessem ter, eles preenchiam dois requisitos básicos, a meu ver: eram organizados pela entidade máxima do futebol no Brasil e eram o maior torneio nacional em disputa na época. Além disso, quase sempre deram vaga à Libertadores.

Outro torneio que preenche esses requisitos é a Copa do Brasil. Porém, por algum motivo, a Copa do Brasil parece ser subvalorizada pela mídia e pelos times. A impressão é de que ela é meramente um torneio que dá vaga pra Libertadores e pronto. Nem parece que esse é o torneio mais democrático do país e o único que reúne times de todas as divisões nacionais...

Afinal, o que se questiona aqui é a falta de noção da CBF de transformar aqueles torneios em versões antigas do Brasileirão; eles são, de forma correta e justa, as competições nacionais disputadas no Brasil de 1959 a 1970!

É necessário que se respeite a história, e sobretudo, não subverter os valores de cada torneio; Não é obrigação da CBF valorar suas competições antigas; quem deve fazer isso são os times que as venceram! Eles é que devem fazer seus torcedores entenderem que aqueles torneios eram competições nacionais, sim, mas não Campeonatos Brasileiros.

As coisas poderiam - e deveriam - ser bem mais simples. E as fórmulas da Taça Brasil e do Robertão mostram isso.

A Taça Brasil nunca teve uma fase de grupos que fosse. Todas suas disputas se deram em jogos eliminatórios, ou seja, em mata-mata. Isso a torna, por definição uma copa. Como é hoje em dia a Copa do Brasil. Na verdade, EXATAMENTE como é a Copa do Brasil!

Já o Robertão, em suas quatro edições "nacionais", não teve um jogo eliminatório sequer: foi todo disputado em sistema misto, com as primeiras fases disputadas em sistema de grupos classificatórios (todos contra todos, com a classificação disputada dentro das chaves).EXATAMENTE como foram disputados todos os Campeonato Brasileiros de 1971 a 2002!

Não ficou mais fácil estabelecer as comparações agora, e respeitar todos os torneios?

Se a CBF tivesse feito um trabalho de gente, teria listado seus torneios da seguinte forma:


Juntando os campeonatos e as copas em uma lista só, por clubes, fica assim:


Ou seja, na verdade o Cruzeiro sai até no lucro, pois não seria tricampeão brasileiro, mas sim heptacampeão brasileiro. Só que com cada título no seu "quadrado": dois campeonatos e cinco copas.

Essa tabela também é a prova da minha isenção: mesmo escrevendo em um blog corinthiano, estou reconhecendo que, pela minha lógica, Palmeiras e Santos teriam mais títulos nacionais. Esses times ganharam muita coisa nas décadas de 1960 e 1970 e o Corinthians só se tornou uma potência nacional a partir dos anos 1990.

Bom, para mim, essa é a forma mais honesta de se classificar as competições, sem mudar a história nem tornar um título em outro. Os campeonatos não podem ser usados pela CBF como instrumento de poder, mas sim respeitados como um pedaço das vidas de vários grandes times do pais, que contam com milhões de torcedores apaixonados que defendem seus times com todas as forças. Essas torcidas mereciam mais consideração!

E você, o que pensa do assunto? Concorda comigo? Discorda? Faça seus comentários abaixo!

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