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domingo, 22 de janeiro de 2017

Sobre arenas, futebol e alma

A Fiel se despedindo do do velho "Paca" (Foto: Divulgação / Corinthians)
Quando tinha meus bons 10 anos de idade, meu pai decidiu que estava na hora de me iniciar de vez nesse vicio ao qual vocês chamam Sport Club Corinthians Paulista. Eu nasci em berço corinthiano (literalmente), a parte paterna da família sempre foi um reduto do alvinegro paulista, então não demorou pra que eu também fosse levado por esse amor a esse time que tanto me marcou, me maltratou, mas que também gravou os momentos mais felizes e icônicos na minha memória. Eu tenho fresca na minha cabeça a primeira vez em que eu pisei em um estádio, foi num 8 de agosto extremamente frio em 2004 contra o Botafogo, eu lembro da viagem de metrô até o Pacaembu, lembro do meu pai contando pra mim dos jogos que ele tinha visto no estádio, dos costumes de torcida, enfim lembro de tudo. A chegada no estádio foi um momento lindo, uma coisa indescritível para qualquer criança, o momento que estará com toda certeza no top 5 de momentos da minha vida e de todas as crianças que viram um jogo de futebol no estádio.
A nova casa da Fiel (Foto: Instagram/Bruno Teixeira Rolo)
O velho Paca apresentava já os sinais de que era um veterano, mas tal qual um Dodge Charger 64, ele ainda era imponente, incrivelmente aconchegante para um gigante de concreto, e na minha cabeça de criança era o maior e melhor estádio do mundo e ai de quem dissesse que eu estava errado naquele momento. O Corinthians empatou aquele jogo, eu tomei chuva, vi um cara pedindo dinheiro pra voltar pra casa porque tinha gastado os últimos vinténs no ingresso, vi uma senhora que já devia ter seus 80 anos subindo a rua Itápolis com sua bengala para entrar pelo portão 18, e apesar de toda dificuldade de locomoção ela estava com um sorriso no rosto. O estádio cria a relação de cumplicidade entre pai e filho, é o lugar em que teu pai te deixa falar palavrão pra xingar o árbitro desde que você não fale nada pra sua mãe. Ir no estádio é sensacional, tanto é que depois desse dia eu virei frequentador assíduo do recinto.

Mas e o futebol moderno com isso? Bom, há algum tempo eu fui conhecer a Arena Corinthians, e só posso dizer coisas positivas sobre lá, é fácil de ir, os banheiros são limpos, a visão do campo é boa, as filas são organizadas, a área de circulação interna é linda e inclusive é mais bonita que muito shopping center. Mas mesmo com toda essa beleza parece que falta alguma coisa lá. Ao entrar você tem que ficar se lembrando que é um jogo de futebol que acontecerá ali, todo aquele mármore te faz pensar que é só mais um passeio de domingo, todas aquelas atrações, toda aquela estrutura (muito bonita por sinal) não te fazem prever de imediato que o Corinthians, o time do povo, vai ali jogar.

Não pense você que eu acho que o clube não tem que evoluir ou então que sou uma viúva dos banheiros químicos e da desorganização do Pacaembu, só estava pensando comigo mesmo como o progresso toma um tiquinho de nossa alma corinthiana (sim, com "h" mesmo) acostumada a sofrer, mas eu sei que o progresso vem, independente de mim ou de qualquer outro que tenha consigo um pequeno saudosismo. Mas é um divertidíssimo estudo social ou etnográfico reparar na formação dos novos “maloqueiros” da Arena Corinthians.

Espero muito estar errado mas a nova arena do Timão (assim como as arenas novas dos outros clubes) mesmo com seus 8 metros de distância entre público e jogador, parece afastar mais o torcedor do seu time que o alambrado do Pacaembu, assistir o jogo em pé e pulando no concreto é mais gostoso que ver sentado na confortável cadeira da arena, e todo o mármore e tecnologia não são tão impactantes para um pequeno e fanático torcedor quanto as paredes creme e o chão sem piso ou qualquer outro enfeite do Pacaembu, mas como eu disse, eu torço muito para estar errado e só estar sendo um pouco sentimental com a nossa antiga casa.

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