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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Corinthian-Casuals - Brasil Tour 2015: A grande recepção

Jogadores do Corinthian-Casuals empunham bandeira de Sócrates, ao tirar a primeira foto em conjunto, ainda no aeroporto (Foto: Stuart Tree / CCFC)

Presenciar marmanjos no alto de seus 20 e poucos anos (alguns com mais de 30), chorando como crianças ao deixar o Brasil, depois de terem vivido a semana de suas vidas, é algo simbólico por sí só. Mas é algo que tem o seu quê de simbólico, isso não posso negar. Eu mesmo tive meus momentos, pois fica difícil não chorar ao imaginar que, em tão pouco tempo (apenas oito dias), tanto foi vivido, e nada restaria daqueles momentos além dos vários registros e das memórias que guardamos na mente e no coração.

Não posso, porém, falar do fim dessa jornada sem citar o seu começo. E para falar do começo, é preciso voltar ao dia 18 de janeiro. Estamos em São Paulo, no Aeroporto de Cumbica, à espera de que, pelo menos uma vez na vida, um sonho pudesse se tornar realidade.

Para chegar lá, saíra do terminal rodoviário do Tatuapé, na linha 257, direto ao portão 4 do aeroporto - mas nosso destino real era outro portão, o tal Gate 3... então, foi necessário pegar um ônibus de traslado. Começava então um passeio mais que desnecessário pelos portões 1 e 2 de Cumbica, em uma velocidade comparável à de um patinete. Mas tudo bem, nem estava com pressa (mentira).

Vejo o relógio. Já são 19 horas e eu, ali, dentro daquele ônibus, passeando entre os portôes de Cumbica como se não tivesse mais nada para fazer! Bom, mas quem me mandou descer no portão errado, também. Resultado: por pressa e desinformação, estava a um passo de me atrasar pro compromisso da minha vida, fruto de um projeto de 18 meses cujo início estava prestes a acontecer - e pelo visto, longe dos meus olhos, se a pontualidade inglesa se concretizasse. Por sorte, contava com um típico costume brasileiro para me ajudar - o do atraso!

Somente depois de uns bons minutos, que me pareceram horas, finalmente chegamos lá. Será que eu perdera a chegada dos jogadores? 

- Pronto, chegamos! Por onde que eles desembarcam mesmo?
- Não sei, Fabricio... deixa eu tentar ver aqui. (Abro o celular, buscando informações que eu nem sabia se estavam lá, em meio às dezenas de documentos que havia salvo, caso precisasse. Claro que não precisei de quase nada daquilo)
- Daniel, tem certeza que eles chegam às 19h05? Não tem voo nenhum vindo de Londres no painel...
- Mas eles fizeram conexão, deve ser por isso. Não sei. Tô nervoso!

Pouco tempo depois. o alívio. Não perdera o desembarque. E entre as escadas rolantes, bem em frente ao local onde o Corinthian-Casuals passaria, vejo Marie e Fabio, com uma aparente e inexplicável calma (com certeza era só aparência: impossível manter a calma naquela situação). Em seguida, aparece Mathieu, com um semblante mais empolgado, que o acompanhou durante todos os dias do Tour - ele não parou de trabalhar um minuto sequer, o que achei admirável!

Em tempo: Fabricio Zuccherato foi o amigo que me recebeu em São Bernardo, durante os dias em que trabalhei como membro da equipe de imprensa dos ingleses. Marie e Fabio Bakhuizen foram dois colegas de trabalho, durante o Tour (ela, como colega do Press Team, ele como designer), assim como o Mathieu Anduze; grandes profissionais que espero ter como amigos durante muito tempo!

Esq. para dir.: Mathieu Anduze, Fabio e Marie Bakhuizen (sup.); Endd e Fabricio (inf.)

Apresentações feitas, conversa vai, conversa vem, e nada do time. Mas isso não era tão ruim assim, naquele momento. Afinal não conseguia ver mais que 20 torcedores com camisas corinthianas - um pouco menos do que queríamos, e muito menos que eles - os ingleses - esperavam.

- Com quais membros de torcida você falou, Daniel? - me pergunta Marie, com tom de voz mais apreensivo. - Eles já desembarcaram, devem estar pegando as bagagens. 
- Calma que vai vir mais gente (não me perguntem de onde tirei essa frase, era mais esperança que convicção). Deixa eu ligar pro Endd.

Endd Fugg Hara se tornou meu amigo pessoal em setembro, quando nos conhecemos na sede da Camisa 12, na festa de aniversário da torcida. Havia levado para lá, na ocasião, Chris e Jay, representantes do Casuals que vieram ao Brasil ano passado - e em outros eventos também. Vamos falar mais disso tudo em posts futuros. O que importa agora é que eu esperava o Endd no aeroporto e ele não aparecia de jeito nenhum, e eu já estava me irritando com isso.

- Endd, pelo amor de Deus, cadê você? 
- Desci no portão errado, tô a caminho! (Aff, mais um descendo no portão errado) Tem muita gente aí?
- Olha, sinceramente não... você falou com as torcidas?
- Até tentei, mas o jogo atrapalhou. Vou ver se consigo saber se alguém vem de Barueri. Já tô chegando aí...

De novo, em tempo: no mesmo horário do desembarque do Corinthian-Casuals, o Corinthians jogava a Copa São Paulo de Juniores em Barueri, contra o Goiás, pelas oitavas-de-final. Jogo que inviabilizaria qualquer "invasão" das torcidas ao aeroporto, por conta da distância.

- O Jay me disse que eles já pegaram as bagagens. Quer saber se tem muita gente aqui. Meu, o que eu digo pra ele? - pergunta Marie, no meio da rodinha que formávamos, junto com os representantes que o Corinthians enviara à Cumbica, e, ao largo, outro amigo que aguardava o time, Anderson Moraes, da Rádio Resistência.
- Putz, Marie. Diz que tem bastante gente...
- Mas quantas pessoas? 
- Aaahh... umas 50, 60... vai chegar mais gente... se eles esperarem um pouco, enche um pouco mais. (Detalhe: já era umas 20 horas, talvez mais tarde)... não vai ser uma invasão igual à do Mundial, mas vai fazer um barulho.

A expectativa pela chegada começava a se tornar, timidamente, temor pela reação dos atletas. Já pensava nas justificativas que poderiam ser dadas para explicar o pequenopúblico, algumas reais como o fato de que não é um costume nosso realizar grandes recepções em aeroportos, mesmo para clubes de futebol. Que mesmo os nossos grandes times só são recebidos por multidões em ocasiões extremamente especiais, e olhe lá. O discurso estava na ponta da língua.

- Gente, venham ver isso!

A surpresa da Marie tinha motivo. Ao longe, no piso superior, ao lado da escada rolante do lado direito, torcedores exibiam uma linda faixa que ilustrava o rosto de Sócrates e os dizeres "O Corinthians é um estado de espírito". Primeiro motivo concreto de emoção da noite, primeira razão pra ativar a câmera do celular e fotografar algo - a primeira de centenas de fotos!

Meu primeira registro desse Tour  (Foto: Daniel Keppler)

Finalmente, o Endd chega. Sozinho. Mas como assim, ninguém veio com ele?

- Tá todo mundo no jogo, Daniel. E acho que não vem ninguém de lá, é difícil. Não teve jeito. Mas até que tá legal aqui, hein?

Realmente, havia mais gente. Dava pra ver camisas do Corinthians, pipocando ali e aqui. Algumas do Corinthian-Casuals também se destacavam, com sua coloração "pink & brown" se destacando na multidão. O japonês, então, já empunha câmera e filmadora nas mãos, pra registrar tudo. Eu não conseguia, a ansiedade era muita... todo o nervosismo que não dera as caras mais cedo começava a aparecer ali, naqueles momentos antes da chegada do time. Era difícil processar que aquele projeto que parecia tão inatingível no passado, finalmente se tornaria algo real. Que tudo havia dado certo... que o Casuals estava aqui, no meu país. Sim, eles estavam aqui!

- Eles vão sair. O Jay me mandou no celular, "comecem a torcer". Vê aí se o time está saindo! 

A frase da Marie foi a deixa pra correria. O Endd correu pra entrada do desembarque. O Fabricio, que eu havia abandonado sem querer (desculpe, Fabricio) foi para a ponta do corredor de desembarque, cuja parede é de vidro. Eu fui avançando aos poucos, em um misto de alegria e preocupação - afinal, ninguém aparecia. Que raios de chegada é essa que demora tanto?

Na verdade não sei quanto tempo se passou. Não mantive essa noção de tempo muito bem delimitada na cabeça. Só sei que não pensava em mais nada a não ser em ver os atletas. Precisava ver pra crer!

Só comecei a acreditar quando vi o fotógrafo do time, Stuart Tree, caminhando calmamente, mas com semblante incomparavelmente alegre, caminhando em direção à entrada do saguão, provavelmente pra fotografar os outros da delegação dando seus primeiros passos no Brasil. Instantes depois, vejo Brian Vandervilt (o presidente) e os outros diretores, que terei a chance de citar em posts futuros, também. Logo depois, eles aparecem. Byatt, Hicks, Brackett... e aí sim, pude me convencer finalmente: o Corinthian-Casuals chegou ao Brasil!

À esquerda: primeiros diretores do Corinthian-Casuals aparecem do saguão; à direita, jogadores dão autógrafospara a torcida; abaixo, Jamie Byatt abre bandeira do Corinthians, enlouquecido, logo ao desembarcar no Brasil (Fotos: Daniel Keppler)

A torcida, àquela altura composta por umas 80 pessoas, talvez, começa a gritar. E, mesmo com menos pessoas que o esperado, a prometida recepção é cumprida à risca: o hino do Corinthians é cantado; dezenas de torcedores se amontoam com seus celulares em uma mão, tirando fotos, e canetas na outra, pedindo autógrafos - pedidos que, aliás, foram atendidos com uma elegância tipicamente europeia dos nossos convidados. (Abaixo, vídeo dos atletas com a torcida, já na parte de fora do portão)


E assim começaria a semana de rockstars daqueles que, na Inglaterra, são simples atletas amadores, que levam vidas comuns e repletas por uma rotina tão semelhante à minha ou à sua - com a diferença de que, uma vez por semana, eles defendem em campo as cores de um time que herdou do passado um legado forjado pela mais incrível história do futebol. Um espírito missionário, centenário... corinthiano!

Mais de 100 anos depois, o Corinthian voltava ao Brasil. Eu acompanhei esse tour, e vou dividir com vocês o que vi, vivi e senti dessa viagem!

Continua...

Os relatos descritos nesse post, assim como nos próximos, e incluindo os diálogos, podem não representar os fatos de forma estrita. No entanto, todos os acontecimentos são reais e verdadeiros, e são mostrados no limite dos meus esforços para me lembrar de como tudo aconteceu. Asseguro de que nada do que foi descrito é ficcional, e me comprometo a assim prosseguir escrevendo nos próximos posts.

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