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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Tite no Corinthians: o lugar do melhor técnico deve ser no maior clube

Poucas imagens simbolizam melhor a identificação entre um treinador e um clube  (Foto: Ricardo Nogueira/ Folhapress)

Tite sempre será lembrado pela torcida corinthiana como o técnico que superou todas as barreiras. A Libertadores de 2012 o alçou a um patamar quase inatingível no rol de personagens da nossa rica história. O Mundial de Clubes não era inédito, mas também foi, a seu modo, inesquecível.

Hoje, o nosso bicampeonato mundial completa dois anos. Quem diria que, justamente em um 16 de dezembro, nós teríamos a honra de receber Tite novamente no Parque São Jorge?

Estou certo de que não é uma obra do acaso. Não sou ingênuo a esse ponto. Mas a simbologia é muito feliz, pois me faz relembrar de um dos grandes momentos protagonizados por um dos melhores Corinthians da nossa história. E muito disso se deve a um treinador que, não importa se amamos ou odiamos: é preciso admitir sua importância.

Tite nos venceu quando parecia inpossível (Foto: Reprodução / ESPN)
Eu aprendi a conhecer, respeitar e admirar o Tite aos poucos. Tinha 13 anos quando ouvi pela primeira vez o seu nome. O ano era 2001.

O Corinthians havia começado a temporada ano muito mal, na ressaca da Copa João Havelange, mas a chegada do Luxemburgo transformou o ambiente. 10 vitórias seguidas e o título Paulista. Só faltava a Copa do Brasil pra coroar - mas faltou avisar isso para o Grêmio e seu técnico, que deu um banho tático no nosso "professor". Calou o Morumbi e nos venceu, sem dó.

Passaram-se três anos. Me lembro como se fosse ontem daquele 2004. Das derrotas, dos vexames, do Grafite nos salvando do rebaixamento no Paulista, do péssimo começo de Brasileirão. Perdemos pro Grêmio de 4x0, do Palmeiras de 4x0, do Atlético-PR por 5x0. O fundo do poço estava logo ali.

Rogério foi o capitão corinthiano na estreia de Tite (Foto: José Patricio / Folhapress)
E então, surge Tite, recém-saído do São Caetano. Tinha pouco tempo pra trabalhar, um elenco ruim e toda a desconfiança que a torcida podia oferecer.

A estreia foi em um 30 de maio, contra o São Paulo, no Morumbi. Sem medo de arcar com as próprias decisões, teve que ser corajoso - a situação exigia isso. Barrou Rincón, Piá, Adrianinho. Com apenas um treinamento para armar o time, Tite escalou três zagueiros, sem medo de ser retranqueiro. Acabou arrancando um empate em 1x1, que naquelas circunstâncias servia como uma vitória.

O que se viu dali em diante foi o resultado do trabalho duro, que se demorou a surtir efeito, quando encaixou transformou um catado de jogadores medíocres em um time realmente competitivo. No fim, três vitórias nas últimas três rodadas nos levaram ao quinto lugar no Brasileirão - a cinco pontos da zona da Libertadores. Honestamente, uma posição que valia como um título. e nos dava uma mostra do que esse técnico era capaz de fazer.

O ano de 2004 também nos trouxe Kia Joorabchian e sua MSI. Uma parceria aprovada sob protestos - que rapidamente se calaram com a chegada de Tevez, Mascherano, Carlos Alberto, Roger, Sebá Dominguez, entre outros. O time de "galácticos" estava formado e a expectativa era enorme... até aquele pênalti perdido pelo Coelho.

Diz-se que Kia não gostava de Tite pois ele não teria "grife" suficiente para o seu Corinthians galáctico (Foto: Gaspar Nóbrega / Lance)

Nunca saberemos de verdade porque o Tite saiu do Corinthians. Mas aqueles nove meses (e 53 partidas) serviram para me ensinar as primeiras coisas sobre esse cara: que ele era trabalhador, que não abria mão de suas convicções, e que não temia em ir longe para defendê-las.

Cada um seguiu seu caminho. A MSI foi embora tão rapidamente quando havia chegado, o vácuo de estrutura deixado por ela se encheu de corrupção e incompetência da cartolagem, e a queda para a Série B foi inevitável. Andres chegou, o "Eu Nunca Vou Te Abandonar" começou a ecoar nas arquibancadas. 2008 chegou e nos devolveu a dignidade. 2009 veio e nos trouxe Ronaldo - e com ele, a majestade. 2010 deveria coroar o renascimento - mas preferiu transformar o centenário no "centenada".

Mas às vezes o destino parece conspirar. O fracasso de Adilson Batista criou a oportunidade para TIte voltar, e fazer cumprir a promessa que fizera naquele já longínquo 2005:

"Um dia eu volto para terminar o que não deixaram."

Ele voltou, mais experiente. Pronto para enfrentar todos os obstáculos que qualquer treinador do Corinthians deve enfrentar E não faltaram obstáculos: um time forte, mas cansado - que não tinha todo o pique de 2009, e que tinha como adversário um forte Cruzeiro e um mais forte ainda Fluminense. Acabou o nacional em terceiro, indo para a fatídica Pré-Libertadores (e o fatídico "Tolima Day").

Não falou pressão pea demitirem o Tite após o jogo contra o Tolima; ele ficou (Foto: Reprodução / UOL)

Foi nesse início de 2011 que eu aprendi mais uma coisa sobre o Tite: ele é resiliente. Poucos teriam a cara e a coragem de bancar a reformulação de um elenco em pleno início de temporada. Tem que se garantir muito pra ter essa confiança, e ainda conseguir transmiti-la com a transparência sufuciente aos seus superiores. Afinal, o Andres jamais teria mantido o Tite no cargo após aquele 2x0 contra em Ibagué se não confiasse totalmente no seu trabalho a longo prazo. E a confiança valeu a pena.

A partir daquele dia, foram aproximadamente 30 meses mágicos, inesquecíveis, quase inigualáveis na história do Corinthians. Cinco títulos, três deles internacionais, e a conquista da supremacia nacional. O Corinthians jogava o melhor futebol do Brasil. O mais bonito? Não. O mais eficiente? COM CERTEZA. Essa taça aí embaixo é a prova disso, olha:

(Foto: Gustavo Serbonchini / Globoesporte.com)
O ano de 2013 acabou me fazendo conhecer mais duas características do Tite. Uma delas é a teimosia. Uma teimosia além do saudável, que acabou depondo contra ele próprio. Manteve por gratidão um time que não retornou o voto de confiança. Acabou por perder-se em meio ao futebol burocrático de sua própria "família" dentro de campo, o que culminou na péssima campanha do segundo semestre. A outra, porém, é indispensável: a honestidade. Ao ver que não poderia levar aquele time ao seu máximo, entregou o cargo ao Gobbi - mas teve o pedido de demissão rejeitado. Tite não sairia do Corinthians pela porta dos fundos - acabou saindo, mas ao fim do contrato (ainda que nem toda a diretoria concordasse com isso).

Uma troca que jamais deveria ter sido feita (Foto: Repdodução / Terra)
Pessoalmente, nunca fui a favor da saída do Tite. Em primeiro lugar, porque sabia que em seu lugar entraria o Mano Menezes, e eu não gostava da ideia. Em segundo lugar, porque eu tinha certeza (e ainda tenho) de que, com o aprendizado de 2013, o Tite podia voltar a acertar a mão na montagem do elenco.

O fato é que o ano passou, e após a coleção de fracassos da temporada, a decisão por não renovar com o Mano foi um sinal claro da diretoria (especificamente de Mario Gobbi): sua volta foi um erro.

Mas para mim, a REAL mensagem é a que será dada amanhã: a saída de Tite é que foi o erro. E dos grandes!

A sintonia e identificação de Tite com o Corinthians é notória, e só não vê quem não quer. Que treinador desempregado rejeitaria sem motivo aparente um convite de trabalho? Que treinador recusaria dirigir uma seleção nacional em ano de Copa do Mundo no Brasil?

E assim, eu acabei aprendendo uma última coisa sobre o Tite. E essa é uma das mais importantes: ele é fiel. Fiel à crença de que a competência se sobressai à sorte; fiel.ao clube que confiou em seu trabalho quando ninguém mais confiaria; fiel a uma torcida que, amando ou odiando seu trabalho, reconhece a sua dedicação!

(Foto: Marcos Riboli / Globo Esporte.com)

Que o 2014 dedicado aos estudos renda frutos; que ele possa ter a liberdade de montar o seu Corinthians de acordo com as suas convicções; e que 2015 seja marcado como o ano em que o Corinthians voltou a ser Corinthians.

O maior técnico merece estar no maior time. 
Bem vindo, Tite. Aqui é a sua casa!

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