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quinta-feira, 4 de julho de 2013

Há um ano, a América enlouquecia

(Texto escrito pelo meu grande amigo Ricardo Russo Jr, que fiz questão de postar aqui no blog. Jamais faria melhor!)


Já faz um ano...

Há um ano, eu acordava cedo de um sono que sequer havia aparecido.

Levantava da cama com a boca seca, com um vendaval dentro do estômago, um sentimento terrível por causa de uma ansiedade incompreensível, mas que sempre fez parte da minha vida e da vida de qualquer outro corinthiano.

Há um ano eu acordei naquela manhã sem fome, coisa estranha para quem, no café da manhã, se deixar, fica comendo até a hora do almoço.

Ouvia fogos ao longe, ouvia fogos ao lado. Ainda era manhã.

Por sorte, sou dono do meu próprio negócio, caso contrário perderia meu emprego, pois, há um ano, naquela quarta-feira, sentei no computador e fiquei olhando a hora passar, sem produzir, sem cumprir um prazo ou redigir uma petição. [nota: o Ricardo é advogado]

Há um ano, minha ansiedade era tanta que minhas mãos descascavam, fruto do stress. Que inferno! Seria capaz de dar meia-noite, mas não daria 22 horas.

Fui pra casa, na Santa Cecília, por volta das 16 horas. Dali para as 19 horas foi rápido. Coloquei minha camiseta preta dos Gaviões da Fiel e fui para a quadra da torcida. Mais um minuto sozinho e eu enfartaria.

No telão, há um ano, apareceu o vestiário do Corinthians pronto para receber o exército que, há um ano, guerrearia na mais épica batalha de sua história.

Aquela imagem foi o suficiente para incendiar aquele ambiente, fazer os surdões gritarem alto ditando o ritmo da torcida. Há um ano, ainda faltavam duas horas...


O tempo foi passando, os mosqueteiros surgiram na boca do túnel. Há um ano, antes mesmo que subissem as escadas, entrei em prantos, não conseguia mais cantar nada, apenas chorava.

Chorava, chorava, ah eu chorava.

Enquanto as lágrimas escorriam, eles subiam ao gramado. O Pacaembu se tornava uma panela de pressão, e quadra dos Gaviões da Fiel, há um ano, explodia. Explodia, e eu chorava.
Há um ano, a bola começava rolar no gramado no Pacembu. Naquele momento, viajei no tempo, para um ano antes (agosto de 2011), quando pisei no gramado de La Bombonera e disse ao fotógrafo que lá trabalhava: “Ano que vem meu time virá aqui decidir a Libertadores”. É...

Superada a emoção, comecei a cantar enfurecido, com a convicção inabalável de que lá no Pacaembu, eles me ouviam cantar do Bom Retiro.

Eles estavam me ouvindo, estavam jogando muito, com raça, com o “sangue nos olhos”.

Acabava o primeiro tempo. Como a quadra estava tomada pelo bairro todo do Bom Retiro, fui à sede social onde narravam os jogos para assistir de lá, do outro lado da rua.

Inferno, há um ano, o segundo tempo não começava, e o Corinthians precisava vencer aquela guerra.

Pronto, eles estavam voltando a campo, e, há um ano, começava o segundo tempo.

Há um ano, por volta dos oito minutos do segundo tempo, o mundo explodia de alegria com o primeiro gol do Sheik! Eu gritava enfurecido, pulava, abraçava amigos, desconhecidos, transeuntes quaisquer. Xingava, explodia de emoção, e claro, chorava.

Corinthians um, o temido Boca Juniors, zero.


Sabendo da sina de sofrimento que sempre assolou a nós corinthianos, eu logo me recompus. Estava temerário com a possibilidade do time adversário empatar a partida e ver o meu sonho ruir. Só que não...

Há um ano, por volta dos 28 do segundo tempo, Sheik roubava a bola no meio de campo, arrancava sem chance para o zagueiro rumo em direção ao goleiro do terrível Boca.

“Vai, vai, vai, não pára...vai embora”, nós gritávamos enquanto o Sheik corria. Há um ano, milhões de loucos o empurraram, fizeram ele acelerar, seguraram o braço do Orion para que ele não desviasse aquela bola após nosso atacante tocá-la para o gol.

Caprichosamente, ela entrava em seu canto esquerdo. E eu, novamente explodia!


Há um ano tudo ficou em silêncio... apesar do barulho, só conseguia ouvir a mim mesmo, xingando, gritando, ajoelhando. Via tudo em câmera lenta, todos choravam, se abraçavam, se ajoelhavam e rezavam. Passada a descarga emocional, tive uma crise de choro.

Corinthians dois, Boca Juniors zero. O terrível Boca Junior, há um ano, caia de joelhos no Pacembu. Mal sabiam eles (o Boca), que outros tantos milhões também caíam, mas para agradecerem aos céus.

Dia 04 de julho de 2012. Há um ano, essa data entrava para a história.

Faz um ano que conquistamos a libertação corinthiana!

Foi assim que vivi aquele dia. Um dia para jamais ser esquecido.

PS: Meses depois de ter vivido o inferno dentro do Pacaembu, Riquelme, craque do Boca Juniors, respondeu a um repórter que lhe perguntou o que ele teria a dizer sobre a final do mundial entre Cornthians e Chelsea. Em um ou dois segundos ele voltou ao tempo se lembrando do que tinha vivido e respondeu com jeito sério: “O Chelsea não imagina o que o aguarda”.

Há um ano, a América enlouquecia... e gritava em um só coro: É CAMPEÃO!


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