(Texto escrito pelo meu grande amigo Ricardo Russo Jr, que fiz questão de postar aqui no blog. Jamais faria melhor!)
Já faz um ano...
Há um ano, eu acordava cedo de um sono que sequer havia aparecido.
Levantava
da cama com a boca seca, com um vendaval dentro do estômago, um
sentimento terrível por causa de uma ansiedade incompreensível, mas que
sempre fez parte da minha vida e da vida de qualquer outro corinthiano.
Há
um ano eu acordei naquela manhã sem fome, coisa estranha para quem, no
café da manhã, se deixar, fica comendo até a hora do almoço.
Ouvia fogos ao longe, ouvia fogos ao lado. Ainda era manhã.
Por
sorte, sou dono do meu próprio negócio, caso contrário perderia meu
emprego, pois, há um ano, naquela quarta-feira, sentei no computador e
fiquei olhando a hora passar, sem produzir, sem cumprir um prazo ou
redigir uma petição. [nota: o Ricardo é advogado]
Há um ano, minha ansiedade era tanta que minhas
mãos descascavam, fruto do stress. Que inferno! Seria capaz de
dar meia-noite, mas não daria 22 horas.
Fui pra casa, na Santa
Cecília, por volta das 16 horas. Dali para as 19 horas foi
rápido. Coloquei minha camiseta preta dos Gaviões da Fiel e fui para a
quadra da torcida. Mais um minuto sozinho e eu enfartaria.
No telão,
há um ano, apareceu o vestiário do Corinthians pronto para receber o
exército que, há um ano, guerrearia na mais épica batalha de sua
história.
Aquela imagem foi o suficiente para incendiar aquele
ambiente, fazer os surdões gritarem alto ditando o ritmo da torcida. Há
um ano, ainda faltavam duas horas...
O tempo foi passando, os
mosqueteiros surgiram na boca do túnel. Há um ano, antes mesmo que
subissem as escadas, entrei em prantos, não conseguia mais cantar nada,
apenas chorava.
Chorava, chorava, ah eu chorava.
Enquanto as
lágrimas escorriam, eles subiam ao gramado. O Pacaembu se tornava uma
panela de pressão, e quadra dos Gaviões da Fiel, há um ano, explodia.
Explodia, e eu chorava.
Há um ano, a bola começava rolar no gramado
no Pacembu. Naquele momento, viajei no tempo, para um ano antes (agosto
de 2011), quando pisei no gramado de La Bombonera e disse ao fotógrafo
que lá trabalhava: “Ano que vem meu time virá aqui decidir a Libertadores”. É...
Superada a emoção, comecei a cantar enfurecido,
com a convicção inabalável de que lá no Pacaembu, eles me ouviam cantar
do Bom Retiro.
Eles estavam me ouvindo, estavam jogando muito, com raça, com o “sangue nos olhos”.
Acabava
o primeiro tempo. Como a quadra estava tomada pelo bairro todo do Bom Retiro, fui à
sede social onde narravam os jogos para assistir de lá, do outro lado
da rua.
Inferno, há um ano, o segundo tempo não começava, e o Corinthians precisava vencer aquela guerra.
Pronto, eles estavam voltando a campo, e, há um ano, começava o segundo tempo.
Há
um ano, por volta dos oito minutos do segundo tempo, o mundo explodia
de alegria com o primeiro gol do Sheik! Eu gritava enfurecido, pulava,
abraçava amigos, desconhecidos, transeuntes quaisquer. Xingava, explodia de emoção, e
claro, chorava.
Corinthians um, o temido Boca Juniors, zero.
Sabendo
da sina de sofrimento que sempre assolou a nós corinthianos, eu logo me
recompus. Estava temerário com a possibilidade do time
adversário empatar a partida e ver o meu sonho ruir. Só que não...
Há
um ano, por volta dos 28 do segundo tempo, Sheik
roubava a bola no meio de campo, arrancava sem chance para o zagueiro
rumo em direção ao goleiro do terrível Boca.
“Vai, vai, vai,
não pára...vai embora”, nós gritávamos enquanto o Sheik
corria. Há um ano, milhões de loucos o empurraram, fizeram ele acelerar,
seguraram o braço do Orion para que ele não desviasse aquela bola após
nosso atacante tocá-la para o gol.
Caprichosamente, ela entrava em seu canto esquerdo. E eu, novamente explodia!
Há
um ano tudo ficou em silêncio... apesar do barulho, só conseguia ouvir a
mim mesmo, xingando, gritando, ajoelhando. Via tudo em câmera lenta,
todos choravam, se abraçavam, se ajoelhavam e rezavam. Passada a
descarga emocional, tive uma crise de choro.
Corinthians dois, Boca Juniors zero. O terrível Boca Junior, há um ano, caia de joelhos no Pacembu. Mal sabiam eles (o Boca), que outros tantos milhões também caíam, mas para agradecerem aos céus.
Dia 04 de julho de 2012. Há um ano, essa data entrava para a história.
Faz um ano que conquistamos a libertação corinthiana!
Foi assim que vivi aquele dia. Um dia para jamais ser esquecido.
PS:
Meses depois de ter vivido o inferno dentro do Pacaembu, Riquelme,
craque do Boca Juniors, respondeu a um repórter que lhe perguntou o que
ele teria a dizer sobre a final do mundial entre Cornthians e Chelsea.
Em um ou dois segundos ele voltou ao tempo se lembrando do que tinha
vivido e respondeu com jeito sério: “O Chelsea não imagina o que o
aguarda”.
Há um ano, a América enlouquecia... e gritava em um só coro: É CAMPEÃO!
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