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terça-feira, 27 de setembro de 2016

Libertadores: final em campo neutro é uma idiotice completa

Libertadores terá final descaracterizada, por obra da cartolagem sulamericana (Foto: reprodução / Twitter)
A CONMEBOL surpreendeu todo mundo hoje, ao anunciar mudanças um tanto radicais na Copa Libertadores, que serão implementadas já ano que vem: o número de participantes será ampliado e o período de disputa esticado, com o torneio terminando somente em novembro.

Para os clubes brasileiros, muito do planejamento deverá ser ajustado no futuro com essas mudanças. Afinal, não são poucos os que definem seus objetivos nos torneios nacionais (Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil) a partir do que conseguem durante o primeiro semestre, na Libertadores. Com o continental terminando no fim da temporada, nenhum clube poderá mais simplesmente abrir mão de sua competitividade nos jogos locais, tendo que se dedicar inteiramente em todas as competições. Bom para nós, torcedores.

Além disso, a CBF tenta conseguir uma das vagas extras criadas nessa "ampliação" do torneio - o que pode acabar conseguindo. Fico pensando, então, que critério será inventado para entregar essa vaga. Será que o G-4 virará G-5? Ou a CBF vai criar um novo torneio ao estilo "Copa dos Campeões" e conceder a vaga ao campeão? É esperar para ver.

No entanto, como estamos falando de CONMEBOL, é claro que nem tudo seria perfeito. Alguma estupidez teria que ser cometida. E assim aconteceu: a partir de 2017, o campeão da Libertadores será definido em jogo único, e em campo neutro. Ao melhor estilo Champions League.

Só que não, né?

Ao se comparar à UEFA e colocar a Libertadores no mesmo patamar que o principal torneio europeu, a CONMEBOL mira nos prós da ideia, mas ignora totalmente os contras - que não são poucos, principalmente para o torcedor!

Em primeiro lugar: as distâncias geográfica e logística. A extensão territorial da América do Sul é 74% maior que a da Europa - somente dentro do Brasil caberiam facilmente mais de 30 países europeus, como dá pra ver no mapa aqui do lado. Além disso, é impossível comparar os continentes em infra-estrutura; na Europa é possível, por exemplo, atravessar vários países em um único trem, enquanto por aqui qualquer viagem interestadual pode ser um verdadeiro inferno para os torcedores... e às vezes para os próprios jogadores - lembram do Corinthians no Equador, em 2012, contra o Emelec?

Uma outra questão diz respeito às condições político-econômicas das duas regiões. Apesar de o futebol estar ficando cada vez menos acessível de um modo geral, é impossível ignorar que o torcedor europeu tem muito mais condições de ir a qualquer país assistir a uma partida de seu time - pois ele ganha mais, seu poder de compra é maior, e o futebol acaba ocupando menos de seu salário do que no bolso do torcedor latino. Muito disso é culpa, também, dos clubes daqui, que insistem em conferir valores europeus aos seus produtos.

A CONMEBOL também acabou ignorando a absurda desigualdade na estrutura dos clubes sulamericanos. Não faltam exemplos de estádios completamente precários que recebem jogos da Libertadores, inclusive em fases eliminatórias. Como será feita a escolha das sedes? Que critérios mínimos de qualidade será adotada, visando a qualidade da partida e o conforto do torcedor? Até onde a CONMEBOL aceitará ceder esse sentido, por omissão, negligência ou pura politicagem?

Por fim, outro ponto extremamente grave é a diferença de apelo comercial. A CONMEBOL parece ignorar a total disparidade entre os clubes sulamericanos e europeus nesse sentido, achando que a final da Libertadores, por si só, seja um produto forte suficiente para render em qualquer lugar. Imaginem um Libertad (PAR) x América (MEX) jogado em Lima ou um Peñarol (URU) x River Plate (ARG) disputado em Caracas. Vamos lá, alguém tem a ilusão de que seria sucesso de público? Conseguem conceber milhares de torcedores atravessando o continente para ver o jogo? Dá pra contar nos dedos a quantidade de clubes que deslocariam mais que 10 mil torcedores para um jogo a, por exemplo, 2000 km.

Durante anos a fio a confederação continental tem usado seus torneios como moeda de troca para manter seu poder e domínio sobre as federações nacionais. Pouquíssimas vezes se importou em fortalecer os clubes, ajudá-los a internacionalizar suas marcas. E agora espera que, em questão de meses, esses mesmos clubes sejam capazes de transformar em um evento de sucesso, como ocorre com a final da Champions... uma idiotice sem tamanho.

O presidente da CONMEBOL, Alejandro Dominguez, justificou a mudança na final lembrando que o mandante do segundo jogo da final levou 7 de cada 10 títulos da Libertadores. Afirmou ainda que "justiça desportiva exige final única em campo neutro". Ele tem direito à opinião, mas seu argumento é tão válido quando o daqueles que veem toda a justiça do mundo no formato atual da final - dois jogos, um em cada país do finalista. Como isso pode ser injusto?

O fato é que só saberemos de verdade se realizar a final da Libertadores em campo neutro e jogo único vai ter sucesso ou não, a partir de 2017. Mas confesso que ficarei extremamente surpreso se der certo. Hoje, não consigo definir essa ideia de outra forma: é uma total idiotice.

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