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sábado, 17 de setembro de 2016

Inexplicável: a palavra perfeita para definir a nova camisa III do Corinthians

A "camisa do inexplicável" estreou com empate diante do Coritiba (Foto: Reprodução / Nike)

No dia 13, recebi por e-mail o release da Nike sobre a campanha "Corinthians não se explica". Tratava da nova camisa III do clube. O texto falava sobre como as coisas acontecem no Corinthians de um modo "além da compreensão" e sobre como a Nike usou desse "conceito" para criar a "camisa do inexplicável". Aí discorre sobre o produto altamente tecnológico da peça e sobre como eles se importam com a reciclagem e a sustentabilidade, sobre como são parceiros do Timão, etc e tal.

Eu vi a camisa, acho que todos viram. É, realmente muito bonita, como normalmente as camisas III são. Ninguém nega que a Nike tem talento e criatividade para criar peças comercialmente atrativas. Tem sido assim desde 2008, quando o movimento de lançar terceiras camisas ganhou regularidade, sendo a primeira delas aquela camisa roxa, que simbolizava o quanto o torcedor corinthiano é... roxo.

Depois, vieram outras camisas, sempre acompanhada por um "conceito" para justificar a criação:

2010: manteve-se a camisa roxa, dessa vez em tom mais escuro, com listras pretas;
2010: nova camisa, em homenagem do Centenário, essa sim cheia de referências históricas do clube;
2011: uma camisa grená, relembrando a homenagem feita pelo Corinthians ao Torino, em 1949;
2012: o manto ganhou tons de cinza, homenageando o estado de São Paulo;
2013: agora, a camisa era azul - em referência ao um jogo em 1965, onde representamos o Brasil;
2014: ano de Copa do Mundo, né, então a camisa ficou amarela (grande lógica da Nike, parabéns);
2015: ano da polêmica camisa laranja, em homenagem ao Terrão.


De 2008 a 2015, todos os uniformes alternativos do Corinthians (Foto: montagem)
Dá pra perceber que, muito embora a Nike tenha a prerrogativa de criar as camisas III e só mandar para o clube aprovar, ela sempre tentou se basear em alguma referência corinthiana para justificar a peça (mesmo que fosse uma justificativa um pouco meia-boca). Acredito que foi uma forma encontrada por eles de driblar o conservadorismo de alguns dirigente, especialmente em um clube que preza (ou deveria prezar) pelas suas tradições - e tradição, no Corinthians, significa essencialmente ser alvinegro.

Mas como hoje em dia tudo é negócio, o que vale é a camisa ser bonita, e ela vira sucesso de vendas. Aí voltamos ao raciocínio inicial desse texto: como a Nike quase sempre acaba fazendo camisas bonitas, acaba vendendo, independente da carga histórica que justifique a criação. E a grande maioria da torcida acaba aceitando calada essa realidade, abrindo os bolsos em plena crise e transformando a Arena lotada em um verdadeiro arco-íris. Viva os novos tempos.

Vejam, não me incomodo exatamente com a inovação. Não sou adepto da turma noventista, saudosa do passado, "contra o futebol moderno". Não sou um torcedor fundamentalista. Penso que certas coisas mudaram para melhor, e outras para pior. Mas acima de tudo, acredito firmemente que existe limite pra tudo nessa vida. E, para mim, a nova camisa III bateu nesse limite.

Li hoje na coluna do Teleco, do Meu Timão, que a camisa azul-degradé já virou sucesso de vendas, a ponto de fazer o clube usar o Derby de hoje para fazer campanha especial na loja da Arena. Na matéria, há o vídeo de promoção da Nike sobre o uniforme. Um video bonito, bem feito, que chega a arrepiar em alguns momentos. Na última frase, a Nike pergunta: "E por que a nova camisa do Corinthians é azul?".


A própria Nike responde: Corinthians não se explica. Simples assim. É azul porque não se explica. O que me faz pensar que poderia ser vermelha, poderia ser marrom, poderia ser branca com bolinhas... afinal não se explica, certo? É muita cara-de-pau.

Eu fico imaginando como esse conceito foi criado, nas salas de reunião da Nike. Dá a impressão de que primeiro criaram a camisa, e somente depois é que pensarem na desculpa que dariam para justificá-la. Em como fariam para emocionar o torcedor-consumidor a tal ponto de convencê-lo a se endividar para adquirir a novidade.

A nova camisa III do Corinthians é azul, porque é inexplicável. E é assim pois a Nike assim quis. Como não se explica não interessa perguntar mais nada, e dane-se a lógica, o branco-e-preto, as tradições. Dane-se tudo, apenas compre a camisa e cale a boca, torcedor. Permita que suas emoções sejam mais uma vez usadas para enriquecer meia-dúzia de pessoas enquanto seu clube de 106 anos de vida e história é, pouco a pouco, totalmente descaracterizado - e ainda pague por isso, e pague caro por favor!

O que mais lamento nessa história é que não faltariam formas de a Nike inovar no uniforme III sem desdenhar tanto das nossas tradições. É possível criar belíssimos designs em preto-e-branco, originais e criativos, basta querer. Ou então porque não remeter a algum fato histórico e criar uma camisa retrô? Esse ano completamos o centenário do nosso segundo título paulista, não seria uma justa homenagem?

As opções e possibilidades são tantas que não consigo entender porque a Nike prefere fazer o mais difícil, criando uma camisa totalmente desvinculada do clube e criando uma campanha  de promoção que explica essa camisa sem explicá-la em nenhum momento. Dessa forma a Nike não faz mais nada além de chamar o torcedor de verdadeiro trouxa. E o mais lamentável é que o torcedor parecer adorar isso. Um verdadeiro tapa na cara do corinthianismo.

2 comentários:

  1. Em primeiro lugar nem está sendo obrigado a comprar nada. Em segundo lugar em nenhum momento a 3 camisa descaracteriza clube nenhum, perceba que é a camisa que representa maior relevancia, por isso é 3 camisa, não a 1 e nem a 2. Em terceiro lugar você mesmo quando vai ao mercado, compra uma infinidade de produtos cores diferentes das marcas tradicionais, porque é zero, porque é premium, porque é black, porque tem stévia, porque tem mais fibras, porque a pqp e simplesmente cala a boca.

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    1. Bom, não estamos falando aqui de produtos em um mercado, a comparação é esdrúxula. Tenta ler de novo e rebater concretamente o que é falado. Além do mais, "cala a boca" não é argumento, então nem tenho como responder. Abraço!

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