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terça-feira, 20 de outubro de 2015

A melhor música contra Guerrero seria o silêncio

Guerrero marcou apenas quatro gols no Flamengo e vê o Corinthians, sem ele, disparado na liderança do Brasileirão

Se tem um assunto que mexe com o imaginário do corinthiano é a forma como se deve tratar os jogadores que marcaram época com a nossa camisa. Nossa história é rica e cheia de heróis que, cada um a seu tempo e modo, nos ajudaram a construir um passado vitorioso.

O que não se nega, no entanto, é que o ídolo de hoje não é o mesmo de alguns anos atrás. Se no passado era comum um jogador marcar época com a camisa de um clube, e um clube apenas, hoje a rotatividade é a regra - a ponto de muitos idolatrarem alguns jogadores tanto quanto os clubes onde eles jogam - você não torce pelo PSG, mas pelo Ibra; não é fã do Real, mas do CR7! 

No entanto, a relação do corinthiano com seus ídolos é bem particular... especialmente emocional! Tudo o que o corinthiano quer de um jogador é amor à camisa, dedicação e muita força de vontade. Junte-se a isso o fato de que cada um tem seu conceito do que é ser ídolo, e fica fácil imaginar que jogadores improváveis já foram, ou ainda são, considerados ídolos de muita gente - como o Dinei, por exemplo. No elenco atual, muitos apontam Ralf como ídolo, por exemplo (apesar de não ser uma opinião unânime).

Apenas uma coisa não é diferente no corinthiano, quando se trata desse tema: jogador decisivo tende a ser ídolo. Graças a isso, nossa história recente tem uma penca de ídolos: Dida, Marcelinho, Tevez, Ronaldo, Liedson, Sheik... e ele, Paolo Guerrero - aquele que, no Brasil, só jogaria pelo Corinthians.


Falar sobre a trajetória de Guerrero no Corinthians é chover no molhado; todos se lembram do que ele era quando chegou - um bom jogador, encostado em seu clube na Europa, sem muita perspectiva - e no que ele se tornou - apenas o melhor centroavante do futebol sulamericano. Negar o papel do Corinthians no crescimento de Guerrero de 2012 para cá seria burrice, e isso até o próprio peruano deve admitir, com muita gratidão. 

Foi uma pena que a gratidão dele, no entanto, tenha se resumido ao sentimento e não tenha sido externada durante as negociações de renovação de contrato. Também seria chover no molhado falar da pedida absurda do cidadão em salários e luvas... ninguém aqui se esqueceu do acesso de mercenarismo que acabou levando o Guerrero, nosso heroi do Mundial, para o Flamengo - inexplicavelmente por um salário menor e luvas parceladas, como em um carnê das casas Bahia.

Tanto não esqueceu que uma parte da torcida do Corinthians ensaia uma "homenagem" ao jogador, na partida que marca seu reencontro com a Fiel, no próximo domingo: uma música, ao estilo de "Decime Lo Que Siente". A letra seria essa daqui:

“Guerrero, me diz como se sente, 
Voltar pra casa do Timão, 
Mundial você nos deu, mas vai ter que aprender, 
O Corinthians é maior do que você”


Não vou negar a importância do Guerrero pro Corinthians. Foi um jogador decisivo, que suou a camisa enquanto esteve por aqui. Também não ignoro que sua saída foi muito mal explicada, e até mesmo por isso muita gente não engoliu - inclusive eu. O fato de o impasse ter sido, acima de tudo, financeiro, só agrava a situação, afinal, o rapaz não recebia pouco no Corinthians, não.

Agora, daí a fazer música pra ele? Desculpa, é demais. Primeiro porque seria dar ibope a quem arranhou toda uma história em um clube por causa de uns trocados. Segundo, pois nossa atenção e respeito devia ser direcionada a quem tá lá no clube hoje, lutando pelo hexa. Deixar de apoiar o Corinthians pra gritar contra um ex-atleta é estupidez - ou será que não precisamos apoiar o time, já que estamos oito pontos à frente do Atlético-MG?

E em terceiro lugar, e mais importante: a pior forma de atenção que uma pessoa pode ter é JUSTAMENTE a falta de atenção! Quem aí nunca quis morrer enquanto era ignorado por alguém que é ou já foi importante nas nossas vidas?

Preferia mil vezes que a torcida estivesse se mobilizando para homenagear o Sheik. Esse, sim, saiu do Corinthians, foi para o mesmo Flamengo, mas nunca cuspiu no prato que comeu, e sempre que pode declara sua eterna gratidão aos anos que passou no Parque São Jorge. Por que não valorizar isso, então?

Cantar o nome de Guerrero na Arena Corinthians, mesmo que em protesto, será um triste espetáculo protagonizado por uma torcida que vinha sendo exemplar nessa temporada. É um contrasenso lotar o estádio com 41 mil pessoas para se importar com alguém que não se importou conosco quando mais deveria. 

A melhor música contra Guerrero seria o silêncio.


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