Últimas

LightBlog

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O preço que se paga por fazer o mais fácil


Eu não gosto de cravar opiniões sobre muita coisa no futebol. Especialmente quando se fala de treinador. Isso pois eu acredito em projetos a médio e longo prazo, em planejamento... em adaptações.

Por isso mesmo, sempre respeitei muito tudo o que o Tite fez no Corinthians, e mais do que isso, admirei muito todas as vezes em que ele foi mantido no cargo mesmo com a diretoria sob forte pressão dos torcedores pela sua demissão.

Isso aconteceu mais fortemente duas vezes: depois do "Toliminado" em 2011, e depois daquele 4x0 contra a Portuguesa ano passado. Eu fui contra a saída dele nas duas ocasiões, e quem lê o blog com frequência sabe disso. Não escondo minha admiração pelo Tite.

Ele assumiu o nosso Corinthians em meados de 2010 e ficou lá por três anos e meio. Montou um elenco para três temporadas diferentes. E nas três temporadas, houve problemas e sucessos. Quase sempre, mais sucessos do que problemas.

O Corinthians de Tite nunca foi ofensivo. Podem ver os números. Dificilmente nossa média de gols marcados em um campeonato passou de 1,5 por jogo. Só que a defesa sempre compensou, a ponto de nos tornarmos referência no setor. Graças a ela, vencemos duas competições de forma invicta.

Só que de repente, tudo mudou. A partir de agosto, setembro do ano passado, após quase três anos de sucesso e apoio da maioria da torcida, o rendimento do time caiu assustadoramente. Tite não mudou nem o esquema nem os jogadores que haviam vencido tanto. Ele perdeu Paulinho, sim, mas de resto continuou fazendo seu trabalho, como antes. Mas a resposta em campo, tão necessária, não veio.

Os empates e as derrotas se sucederam, os gols marcados desapareceram - e aí, não importava mais que a defesa continuasse sendo a melhor. Sem marcar gols, não se vence.

Não sem alguma resistência, não sem cometer alguns erros, ele tentou mudanças. Aproveitou quase todos os jogadores que podia, e testou muitas variações do seu esquema mais confiável, o 4-2-3-1. Continuou não dando certo.

Achava na época, e ainda acho, que o problema nunca passou pela esfera tática. Aqueles jogadores jogavam juntos daquela maneira há um bom tempo, e da noite para o dia o futebol sumiu. Só que jogador não desaprende a jogar, então não foi o futebol que sumiu: foi a vontade mesmo. Sendo mais específico ainda: a vontade de vencer.

Era clara a necessidade de dispensar alguns atletas acomodados e reformular o elenco. Com novos jogadores, eu tinha a certeza - e ainda tenho - de que ele faria novamente o que já fizera três vezes: um time competitivo. A defesa já estava pronta, era só acertar o setor ofensivo. Era meio trabalho.

Mas a diretoria, que desde 2008 se mostrava tão arrojada, moderna, diferente, não pensou assim. Talvez motivada pela dificuldade que seria quebrar os vários contratos de longa duração (e alta multa rescisória) de alguns atletas que estão literalmente cuspindo na história que construíram no Corinthians, ela preferiu fazer o tradicional. E o que é tradicional fazer em momentos de crise? Demitir o treinador.

Ela cometia aí um erro crasso. Não por se tratar do Tite. Mas porque fora um erro que o próprio Tite havia cometido no início de 2013: confiar no gás do elenco campeão mundial de 2012.

Tite pensou que eles conseguiam render uma temporada mais em alto nível e reformulou pouco a equipe para a temporada seguinte. Resultado: ele montou, sim, um time competitivo o bastante para vencermos o Paulista, mas com sérias limitações quando pressionado a atuar em alto nível. Estava claro que alguns atletas jamais renderiam o mesmo que em 2012, ou seja: não retribuiriam a confiança depositada.

Ao demitir Tite, e manter literalmente todo o elenco para a temporada 2014, a diretoria - mesmo que indiretamente - os eximiu de todas as responsabilidades pelos resultados ruins do último trimestre. Como se dissesse a eles: "eu sei, eu sei, o Tite era malvado. Mas agora o Mano vem aí e vocês vão poder voltar a brilhar, tudo bem".

E então, chegamos ao Mano Menezes.


Mano voltou ao clube que o fez chegar à Seleção Brasileira. Mas tinha um desafio diferente o que o que lhe fora proposto em 2008. A tarefa parecia mais fácil, dessa vez.

Isso pois a culpa era do Tite, certo? Era o seu Adenor que armava mal os jogadores, não os explorava de forma correta, taticamente falando. Cerceava os jogadores de mostrar o seu melhor. Então, era só colocar todo mundo em seu devido lugar, e as vitórias voltariam.

Pra "ganhar" a torcida de vez, prometeu que faria um time equilibrado, que se defenderia mas também seria ofensivo. Onde os jogadores de frente não teriam tantas responsabilidades de marcação, como o Tite sempre insistiu. Esquema "retranqueiro"? Coisa do passado!

E pra ser sincero, as coisas pareciam bem. Bem até demais. Dois jogos, duas vitórias. Muitas chances criadas... enfim, um futebol diferente. Os rojões quase podiam ser ouvidos em comemoração ao início da nova era de Mano.

Ele só não contava com uma coisa: o Corinthians saiu de 2013, mas 2013 não saiu do Corinthians. Pois os responsáveis pelos piores momentos do time ano passado não saíram do time. Seguem lá, protegidos por excelentes contratos que os prendem ao clube por toda a eternidade, aparentemente.

Jogadores com a vida ganha e um lugar de ídolo corinthiano mais que garantido. Afinal, a maioria dos atletas do atual elenco foram campeões da Libertadores, e isso é sinônimo de gratidão eterna. Da torcida e da cartolagem.

Junte-se a isso a necessidade que Mano Menezes tem de mostrar que o seu trabalho é diferente, e as coisas começaram a se mostrar menos simples do que pareciam. Derrota para o São Bernardo, com Ibson e Pato em campo. Acho que nesse jogo o Mano quis ver até onde sua "mágica" conseguia chegar. Claramente, ela tem limites.

Então, chegamos ao jogo de ontem. Contra o Santos. Um time em formação, mas muito ofensivo e cheio de moleques bons de bola e que correm feito loucos. Mano resolveu escalar o que tinha de melhor. Nas suas palavras, o "time ideal".


E o time ideal levou dois gols quase sem perceber que o jogo havia começado. Não fosse o gol de absoluta felicidade do Guilherme, e a nossa apatia seria tragicamente fatal já no primeiro tempo.

O tempo passou, o Santos parou, nós não aproveitamos - na chance que houve, preferimos pedir o pênalti duvidoso a fazer o gol certo. Vai entender. E o jogo foi para o intervalo.

Na volta, de novo, mal sabíamos que o jogo tinha começado e levamos gol: Thiago Ribeiro. Um jogador que muitos santistas se arrepiam de ver com a camisa de seu time. Passou como quis pelos nossos marcadores... aliás, todos os santistas fizeram isso.

Então Mano resolve agir. Se diferenciar de Tite, que tão má impressão deixou. Mexe no time cedo, e mexe para torná-lo mais ofensivo. Coloca o Corinthians para atacar como se não houvesse amanhã.

Mas isso só funciona quando o ataque se garante, e hoje a única coisa garantida para nossos atacantes é a grana do salário na conta corrente.

Sem a necessidade de ajudar na marcação, atacantes caminhavam em campo e defensores se perdiam no toque de bola de um time bem medíocre. Sem esforço ALGUM, quase sem merecer, o Santos fez o quarto e o quinto. Se tivesse apertado, devolvia o 7x1 e a vergonha seria total e completa.

Enquanto isso, nosso técnico refletia sobre a vida sentado no banco de reservas. Me pergunto se as reflexões eram tão importantes a ponto de impedi-lo de pelo menos FINGIR que estava fazendo algo pra evitar a catástrofe. Talvez ele tenha somente evitado a fadiga, sei lá...

Enfim. Esse jogo serviu para uma coisa, e uma coisa só: mostrar que os vilões de 2013 ainda rondam o Parque São Jorge. E eles continuarão a fazer da vida do torcedor um inferno. Cheio de instabilidade e nervosismo com a falta de vontade daqueles que deveriam dar o sangue em campo.

Tudo porque, um dia, lá atrás, alguém preferiu tomar a decisão mais fácil.

Não defendo a volta do Tite. Mas eu, pessoalmente, não o teria demitido. Negociaria e/ou dispensaria jogadores mais desgastados no clube, ou que não rendem mais o esperado, contrataria outros atletas, subiria alguns garotos da base e entregaria nas mãos dele, pra pelo menos mais um ano de contrato. E se o desempenho não fosse o esperado, se ele não conseguisse montar um time forte, aí sim, o dispensaria.

Só que a realidade é outra, e o nome dela é Mano Menezes. O que se passou com o Tite já foi. E a única consequência disso é que JAMAIS vamos saber se Tite seria capaz de fazer em 2014 o que o Mano vai fazer. Nunca saberemos se Tite conseguiria, após receber os reforços, montar um time mais competitivo do que o time de Mano vai ser. Será?

Para nós, resta agora apenas torcer pelo Mano, e pelo seu trabalho. Esperar que ele saiba como administrar a total falta de comprometimento da maioria dos atletas. E que ele consiga impor sua disciplina e devolva ao Corinthians a vontade de vencer - e mais que isso: de mostrar RAÇA!

Infelizmente, não estou confiante. Mas vamos lá. Porque abandonar não é uma opção!

E aí, Corinthians, vai?

Um comentário:

  1. Parabéns, Daniel. Perfeito. Tenho a mesma impressão e opinião que você: dessa turma, não se tira mais vontade, nem futebol de qualidade. Agora, o que fazer? Torcer pro Pato ser vendido por uma boa grana, e usa-la pra contratar uns garotos bons de bola e com vontade de jogar. Colocar os folgados pra capinar uns lotes lá no futuro estádio e ver o que rola.

    ResponderExcluir