Nos últimos dias, mais uma vez o assunto "boicote ao São Paulo" ronda as manchetes ali e aqui. Dessa vez, os clubes prometem não participar da Copa São Paulo de Juniores 2014 caso o SPFC não seja "desconvidado" pela Federação Paulista.
A reclamação é a de que o SPFC estaria infringindo um acordo de cavalheiros firmados pelos dirigentes, para proteger jogadores da base que não tenham contratos profissionais. Isso pois nenhum jogador com menos de 16 anos pode firmar qualquer vínculo contratual. Nessa, vários clubes já teriam perdido jogadores para o time paulista, como o Vasco e a Ponte Preta.
Dez times já confirmaram adesão ao boicote: Flamengo, Vasco, Botafogo, Fluminense, Vitória, América-MG, Atlético-MG, Cruzeiro, Coritiba e Sport. O Corinthians já se posicionou a favor das reclamações do grupo, e o Santos diz que gostaria de pensar em outras formas de punição.
Já outros times são contra, e estão lado a lado com os tricolores: Palmeiras, Grêmio e Internacional, por exemplo. O presidente do Grêmio, Fábio Koff, chegou a oferecer auxílio a Juvenal Juvêncio, para se defender das acusações.
Eu tenho acompanhado esse assunto desde o começo do ano, quando o "grupo" se formou e ameaçou boicotar outros dois torneios de base: a Taça BH e a Copa 2 de Julho. Deu certo, o SPFC abandonou as competições justificando que queria "dar mais atenção ao Paulista sub-20". Mas com a Copinha, a história é outra, e eu acho que dessa vez eles não vão largar o osso.
E eu vejo dois motivos principais para pensar assim. O primeiro deles é o tamanho e a visibilidade do torneio. Vocês acham sinceramente que o SPFC vai perder a oportunidade de observar centenas de atletas que vêm a SP jogar a Copinha todo início de ano? Muitos desses jovens atuam em times que mal lhe pagam salários... jogar em um São Paulo da vida seria a realização de um sonho pra eles. E nessas, eles podem descobrir uma nova revelação.
O outro motivo é legal: o SPFC não está fazendo nada ilegal. Infelizmente, essa prática adotada por eles está amparada na lei, e o "acordo de cavalheiros" firmado entre os clubes não foi estabelecido no papel, também. Foi exatamente isso, aliás, que eles disseram para se defender: que estão cumprindo a lei.
Os clubes rebatem, dizendo que descumprir o acordo é antiético. E aí, sou eu que pergunto: VOCÊS ACHAM QUE O SÃO PAULO SE IMPORTA COM A ÉTICA?
Um time que já na sua fundação se apropriou da estrutura de clubes terceiros que haviam falido; que faliu cinco anos depois da fundação e conseguiu se refundar com uma fusão; que tentou tomar o Canindé da Portuguesa; que construiu o seu estádio em um terreno cedido pelo Governo do Estado, cujo chefe era são-paulino; que precisou de verba estadual para conclui-lo; que não admite mas deve ser grato eternamente aos rivais pela grana levantada no Jogo das Barricas; que disputou a Segunda Divisão mas tenta negar isso até a morte por puro orgulho.
Pra um time desses, o que é um acordozinho de cavalheiros, minha gente?
Na boa, burros foram os cartolas dos outros times. Deveriam ter se resguardado mais. Tinham que ter exigido que a CBF regulasse essa questão e previsse punições aos times que aliciassem atletas com menos de 16 anos dessa forma. E jamais deveriam contar com a palavra de cartolas, ainda mais do SPFC.
Afinal, não foi o Juvenal Juvêncio que deu uma volta no Estatuto e conseguiu um terceiro mandato, mesmo depois de ter dito que não o faria? Então.
Mas como esperar alguma ação prática da CBF se ela mesma usa o CT de Cotia (e só ele) para os treinos das Seleções de base?
O que resta para o "clube do boicote", então, é olhar para si e investir. Investir muito. Se não há forma de vincular o jogador ao clube, o clube tem que se estruturar pra convencer jogador e sua família, pra que eles não caiam na conversa são-paulina.
Hoje em dia, a Lei de Incetivo ao Esporte possibilita que os clubes consigam verbas federais para se equiparem. É o que o Corinthians está fazendo, e é o que todos deveriam fazer. Um clube com bom estrutura e que trata bem seus jovens atletas corre menos riscos de ver um deles saindo do time como o Lucão saiu da Ponte, por exemplo.
O São Paulo, hoje, tem excelentes relações com a CBF e a Federação Paulista. E bota excelente nisso. Dessa forma, não vejo chances de essa questão ser regulada em um futuro próximo. Até lá, cada time deve lutar essa guerra com suas próprias armas.
É isso, ou torcer para o São Paulo começar a cumprir o tal "acordo de cavalheiros". Por mais que isso seja algo como pedir que um cleptomaníaco prometa nunca mais roubar.
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